sábado, fevereiro 16, 2008
"Água o dá, água o leva. Não se preocupam, estes anões. Nem têm razões para isso. Nunca se sentem perdidos, nunca ficam sem recursos. A mais ínfima das substâncias, os mais delicados nadas, alimenta-os e sustenta-os. Agora há um novo jogo. Têm a ver com escaravelhos e pauzinhos. Há um jardim de rochas de cinzas em brasa. Os cabelos são encaracolados e oleosos até à nuca. Sempre agachados e inclinados, a molhar os pavios no pudim. Os métodos caseiros são os melhores.
Eu estou de pé, bafejado pelos odores, à sombra. De quando em quando, um fiapo de chama faz-lhe torcer o nariz. Uivam, precipitam-se para a caixa de areia, beliscam, babam-se, mastigam, choramingam, escavam, depois saram uns aos outros os orifícios com um unguento local, e depois, tudo passa, tudo é esquecido, desatam a brincar, cada qual com o seu compincha, sacam do spray para o nariz, o pulverizador perfumado, e instalam-se para passar a noite com ginger ale e um biscoito."
Harold Pinter (trad. José Lima), Os anões, Dom Quixote, 2006.
posted by Luís Miguel Dias sábado, fevereiro 16, 2008