quinta-feira, janeiro 10, 2008
"Os anões voltaram ao trabalho -- disse Len.
- Estão de olho no que se passa. Picam o ponto muito cedo, farejando o caso. São como falcões num disfarce urbano; só trabalham nas cidades. No entanto, são certamente trabalhadores hábeis e o seu ofício não é isento de riscos. Ficam à espera de um sinal de fumo e desembrulham o equipamento. Estão no local, sem perda de tempo, e cercam a zona de perigo. Uma vez aí, ocupam as suas posições, que estão aptos a modificar de um momento para o outro, se necessário. Mas não param de trabalhar, até que a tarefa que têm em mãos esteja concluída, de uma maneira ou de outra.
Não consegui os meios para pagar uma inscrição, mas eles consentiram em admitir-me no bando, por um curto prazo. A minha permanência com eles não podia ser longa. Não estou a ver esta posição manter-se até ao Inverno. Nessa latura, o jogo terá chegado ao fim. Mas neste momento esta é a única maneira que tenho de trazer de olho o que se passa. E é fundamental que eu siga de perto as cotações da bolsa, as subidas e descidas do mercado. Provavelmente, nem o Pete nem o Mark fazem ideia do efeito que a situação dos seus valores tem no mercado. Mas é assim mesmo.
E por isso vou ficar na companhia dos anões e estar atento juntamente com eles. São poucas as coisas que lhes escapam. Com um aviso deles a tempo, posso resgatar as minhas acções, no caso de haver alguma queda catastrófica."
Harold Pinter (trad. José Lima), Os anões, Dom Quixote, 2006.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, janeiro 10, 2008