A montanha mágica

domingo, dezembro 09, 2007

Era uma vez... (3)




daqui




Todos os momentos são bons para voltar a folhear, lentamente, os números da Kapa que possuo. Mas desta vez foi especial, lembrei-me das palavras manuscritas de Cesariny num jornal comentando um título a seu respeito: o título dizia: Mário Cesariny mostra que está vivo. E ele: "como abrir a gabardine e mostrar o pirilau."

Lamentavelmente, ou inevitavelmente, não há nenhuma revista em Portugal que se aproxime da Kapa. Sinal dos tempos.

Que faz muita falta faz. Assim de repente passaram à minha frente um primeiro ministro mais do que medíocre a dizer que a Cimeira UE/África de Lisboa ficará na história (é tudo grande, excelente, histórico, verdadeiramente extraordinária, etc; ele não sabe, por experiência própria, o que é a História, por isso faz figuras ridículas); uma entrevistadora (de mais um dos programas típicos da televisão portuguesa que ajuda a manter o analfabetismo funcional em larga escala), mais do que má a entrevistar Jerry Seinfeld; passaram por cá no último mês, pelo menos: David Lynch, Don DeLillo e George Steiner, quem é que não os quer dar a conhecer? Quais são as razões? E por aí fora...
"Como abrir a gabardine e mostrar o pirilau"?


É de Novembro de 1992, é o número 26, custou 500 paus e a capa da Kapa diz: Este homem é um génio [escrito por cima de uma fotografia do próprio]. É giro, inteligente e culto. Tem 26 anos, uma noiva, uma mota e um talento gigantesco. Chama-se Rui Chafes. (Deveria ser morto).

Da entrevista por Pedro Rolo Duarte uns fragmentos:


"Vamos lá a ver uma coisa: o objecto para mim, o objecto artístico é apenas uma demonstração, uma possibilidade. Ele não existe.

K: Mas ele existe...

Não, ele pode ser substituído. O objecto é apenas um resquício, um lixo uma sujidade -- e com ele só existe a demonstração, a possibilidade de um modo de ideias. Se não fosse aquele objecto poderia eventualmente ser outro. O objecto, um dia, desaparece, ou porque enferruja ou porque há um incêndio que o destrói, e o que fica é a demonstração daquele modo de pensamento. Isso é, para mim, a ideia de criação dos objectos -- ele não constitui nenhum fetiche nem nenhuma entidade absoluta: é apenas uma possibilidade. O que prevalece é a ideia -- e para demonstrar esta ideia é preciso todo o rigor, toda a noção de verdade relacionada com a noção de beleza, e o que é verdadeiro é belo.

[...]

K: Vamos agora falar um bocadinho na história do livro dos Fragmentos. Quero que me explique a pretensão de ter desenhos ao lado de textos de Novalis.

Pois, isso é um terreno perigoso, é um terreno...

K: Teve sorte: ninguém disse «quem é este gajo para vir para aqui fazer desenhos ao lado...»

Mas tinham esse direito, tinham esse direito.

K: E?

Lá está, eu só posso argumentar com o objecto em si... aquele livro não é um livro, aquele livro é uma escultura, e ponto final.

K: Porque é que o livro é uma escultura? Essa parte também não percebo...

Porque é traduzido por um escultor que não é tradutor. Traduzi o Novalis como quem faz uma escultura, ou seja, durante um certo número de meses estive a fazer, a trabalhar num projecto que era a descrição de uma ideia, a ideia do pensamento de Novalis, com muitos fragmentos que eram acompanhados por imagens.

K: E onde é que está a noção tridimensional da escultura?

Bom, quando digo escultura é uma classificação, uma simplificação, para mim uma escultura pode ser um filme, uma escultura pode ser um livro, um vídeo, uma escultura é... vá lá, essa tal demonstração, que neste caso é plástica, de um modo de pensamento.

[...]

K: De quem é agora aquele livro? De Novalis? É um livro de Novalis e Rui Chafes? É um livro de Rui Chafes para o Novalis?

É um livro de Rui Chafes para Novalis, se bem que uma homenagem seja sempre pomposa e Kitch. Mas é de certa maneira uma homenagem.

K: Uma homenagem não é uma coisa pirosa...

Eu acho que é. É pomposa, é estilo um baile dos bombeiros com discurso.

K: Uma das virtudes que, pelos vistos, os Fragmentos de Novalis têm para si é a descrição exacta do mundo. Fala na descrição exacta do mundo, ainda por cima através de poesia...

Não é «ainda por cima», é precisamente por ser poesia que é uma descrição exacta do mundo. Aliás Novalis diz que «quanto mais poético, mais verdadeiro». Acredito precisamente que o mundo não tem nada a ver com este caixote de lixo cor de laranja que está aqui. Pronto, toda a gente sabe que existe a «real people» e o «real world» e o «real politics», mas isso não é o mundo, isso é apenas a sujidade, o resquício daquilo que a pessoa vê. De maneira nenhuma me interessa envolver-me com isso. Eu prefiro passar ao lado e é nesse sentido que a poesia é a descrição exacta do mundo."


Voltarei à entrevista da Pública durante a semana.


posted by Luís Miguel Dias domingo, dezembro 09, 2007

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