quinta-feira, setembro 13, 2007
Há uns anos atrás, três talvez, numa entrevista a Agustina Bessa-Luís, naquele programa de entrevistas da dois ao domingo à noite, conduzida por dois jornalistas, a determinada altura da conversa a jornalista pergunta à entrevistada se existiam mesmo mesmo fantasmas. Agustina esboçou um sorriso e perguntou-lhe se ainda tinha dúvidas e se nunca tinha visto nenhum. Ela disse-lhe que nunca, já um pouco assustada.
Quem não teve medo nem receio foi o diplomata americano Hiram B. Otis que acabou mesmo por comprar o Castelo de Canterville, apesar de saber que este albergava um fantasma, desde 1570. E argumentou que "os meus compatriotas, activos e diligentes como são, têm levado para a nossa terra tudo o que há no Velho Mundo, a começar pelas melhores e mais célebres actrizes; se, realmente, houvesse fantasmas na Europa, eles não deixariam de os obter para os nossos museus." Esta atitude vai levá-lo a ele e à sua família a pregar partidas, intoleráveis, ao fantasma que não percebendo tamanha falta de respeito entra em crise existêncial. Não o percebem. Excepto Virgínia, a filha mais velha do casal. É Virgínia que vai fazer florir a amendoeira. É ela que no fim fica ruborizada.
A meio do filme ela perguntou-lhe se ele se sentia bem depois de matar, desde que chegara e só à sua conta, sete homens. Ele respondeu-lhe que quando lá chegou só queria uma bebida e um banho quente. Eles não gostavam muito da visita de estranhos. Tremiam. Primeiro por dentro e depois por fora. Quiseram matá-lo e depois que ficasse com eles. Ficou e mandou pintar as casas da aldeia de vermelho. Mudou ou deu o verdadeiro nome à aldeia: hell. No fim perguntou-lhe o nome: já o sabes, disse.
Do livro O Crime de Lorde Artur Savile e outros contos de Oscar Wilde, livro de bolso da Biblioteca Editores Independentes, e do filme High Plains Drifter, em português, como diria o outro, O Pistoleiro do Diabo à venda nas bancas juntamente com Os Profissionais.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, setembro 13, 2007