domingo, julho 22, 2007
"(Não era um estabelecimento muito convidativo. Por uma janela suja conseguimos distinguir uma sala quase despida, com uma cigana escanzelada e cabeluda, sentada numa cadeira de lona sob um candeeiro de tecto que espalhava uma luz de sala de torturas; tricotava umas botinhas de bebé e não correspondeu aos nossos olhares. No entanto, Marilyn começou a dirigir-se para a porta, depois mudou de ideias.)
Marilyn - Às vezes quero saber o que vai acontecer. Depois, penso que é melhor não saber. Contudo, há duas coisas que eu gostava de saber. Uma é se vou perder peso.
TC - E a outra?
Marilyn - É segredo.
TC - Ora, ora. Hoje não podemos ter segredos. Hoje é dia de dor e os que sofrem compartilham os seus pensamentos mais íntimos.
Marilyn - Bem, é um homem. Há uma coisa que eu gostava de saber. Mas é tudo que eu vou dizer. É realmente segredo. - (E eu pensei: «Isso é o que tu julgas, mas vou-to arrancar.»)
TC - Estou pronto a pagar esse champanhe."
Truman Capote (trad. Ersílio Cardoso), Música para camaleões, Livraria Bertrand, 1984.
posted by Luís Miguel Dias domingo, julho 22, 2007