A montanha mágica

quinta-feira, novembro 09, 2006

Lost Highway?






fotogramas do filme Lost Highway, de David Lynch.



Aqui há meia dúzia de anos aprendi a ouvir e a gostar muito dos programas de Sena Santos nas manhãs da Antena 1. Ouvia, diariamente, as emissões das 07h 15 até às 08h30 minutos e aos sábados à hora de almoço. Os dias começavam bem, à medida que ia percorrendo quilómetros --por entre maravilhosos cenários bucólicos, onde aprendi a ver as diferentes cores da luz, das sombras, das estrelas e de alguns túneis-- ia percebendo que aquilo que Sena Santos ia cantando me alongava os circuitos internos do cérebro e me condicionava os sentidos. O meu corpo fazia, então, vários percursos e quando a distância exterior terminava sentia-me revigorado e de sinapses aos saltos.
Mas como é costume dizer-se, tudo tem um fim. Não concordo muito mas... enfim.
A partir do momento em que deixei de ouvir aquela voz que me colocava no centro de preciosa informação deixei de sintonizar aquela emissora que ainda hoje dizem que liga Portugal. Mentira. Desconectei. Empobreci.
Bastaram poucos minutos para perceber naquilo que se ia tornar aquela hora. Experimentei. Detestei. Ao fim de uma hora de emissão chegava ao meu destino cansado e nervoso. Numa hora ouvia notícias sobre a bolsa, sobre desporto, sobre sexo, sobre polémicas nacionais e internacionais, capas de jornais, música, trânsito, entrevistas e opiniões de economistas, psicólogos e de humoristas que deviam estar nos horríveis programas das manhãs e das tardes dos canais de televisão portugueses. Tudo isto se ouvia (ainda ouve?) sem o menor fio condutor. Era um despejar de informação. Inútil. Cansei. Desconectei.
Na aldeia global da sociedade de comunicação e informação, há ainda quem não queira perceber que um dos melhores bens que podemos ter, em termos de consumo de informação e cultura, é a boa selecção de informação nacional e internacional e a serenidade/gravidade (de gravitas) com que a divulgámos.
Sena Santos percebia isso, percebe isso e sabe isso, como poucos.
Tudo isto para lhes dizer que voltei a conectar-me. Não à Antena 1, que continua pavorosa por aquelas horas, mas sim aos podcasts, Assim vai o Mundo, de Santos. Descobri-os um dia destes, como se fosse um segredo, e fiquei maravilhado. Lá, está, onde voltei a encontrar aquilo que me haviam tirado.


posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, novembro 09, 2006

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