quinta-feira, outubro 05, 2006
fotograma do filme Le mépris de Jean-Luc Godard.
"A jovem percebeu que por trás daquelas palavras sem sentido se escondia grave segredo.
- Paul --disse--, todo o mal está em que o senhor se não sente bem.
Ele acenou que sim e esse aceno foi para Margaret uma mão invisível a esmagar a alegria que ainda tinha na alma.
- Era isso que estava a dizer a sua mãe?
Ele acenou novamente que sim.
- Era isso o que não queria dizer-me a mim?
Ele corou e respondeu:
- Isso mesmo!
Largando-lhe as mãos, Margaret deixou-se cair desfalecida num banco do jardim, para subitamente se levantar, pedindo:
- Vá dar o seu passeio, mas, antes de partir, beije-me.
Paul beijou-a e montou. No regresso a casa, cruzou-se com o padre Herbert que, da portaria, vira o jovem a afastar-se, voltando a seguir para o seu quarto.
- Minha pobre filha -- disse o padre --, Paul está doente. Oxalá que, se a menina lograr não morrer, ele não tenha que pagar por si."
Fragmento de "O romance dos De Grey" in O Altar dos Mortos e outras histórias sobrenaturais de Henry James, Editorial Estampa, 1978.
"Homem moderno, é claro que ele nunca chegou a sê-lo; mas certo dia, ao fim de muitos anos, quando certo visitante a quem ele mostrava o seu gabinete lhe perguntou o que vinha a ser aquela mão de mármore, arrumada num recesso assaz oculto, ele tomou um ar grave, fitou-o e disse-lhe:
- É a mão de uma criatura maravilhosa, por quem outrora nutri a maior admiração.
- Ah!... Romana? -- perguntou o cavalheiro com um sorriso.
- Grega -- respondeu o conde com ar carrancudo."
Fragmento de "O último dos Valerii" in O Altar dos Mortos e outras histórias sobrenaturais de Henry James, Editorial Estampa, 1978.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 05, 2006