A montanha mágica

quarta-feira, agosto 23, 2006

moleskine






Uma das coisas que me custa a perceber é quando leio ou ouço dizer que nesta altura do ano não há novidades culturais. Não há exposições. Não há livros novos. Não há discos novos. Tem de ser tudo novidade, tem de ser.
Outra das coisas que me custa a perceber é o seguinte: há pessoas que só vão a eventos se forem convidados de honra. Se assim não for não vão. Ora, como não vão não podem escrever sobre aquilo a que não foram. E se foram não escrevem, para mostrar o seu desagrado. Deve ser um mundo, inho, inho, inho, fodido. Os neurónios devem-se ver gregos. É um dos muitos aspectos positivos da blogosfera. A maior parte das pessoas vai ver, paga, e depois se lhe apetecer escrever sobre o que viu escreve.
Aqui há tempos li na blogosfera portuguesa um post de um blogger cuja posição social e intelectual o coloca nas elites da república monárquica de Portugal. Dizia essa pessoa que chegado de férias encontrou na caixa de correio um daqueles postais a dizer para passar pelo posto para levantar uma encomenda, revistas, que não recebeu por não estar em casa e como o prazo de levantamento dessas encomendas é curto, segundo essa pessoa, acabou mesmo por perder essas ofertas que recebe com grande entusiasmo. Disse que assim já não as podia ler porque as não podia levantar. Pasme-se pois os comentários a esse post eram todos de crítica ao funcionamento dos correios. Aquando da Expo 98, no dia dedicado à Europa, vi pessoas a insultarem-se e a agredirem-se por umas esferográficas e por uns autocolantes.
Mas o que quero mesmo dizer é fazer duas sugestões de leitura: são dois livros, editados, agora, pela Relógio D`Água. Um de George Steiner e outro de Ana Teresa Pereira.
Do primeiro, A Bíblia Hebraica e a Divisão entre Judeus e Cristãos. São dois textos: Um Prefácio à Bíblia Hebraica (1996) e Através desse Espelho, Sombriamente (1991). No que diz respeito a este, George Steiner ensaia uma resposta à pergunta: "Porque, e como, puderam os judeus negar aquilo que os seus próprios livros revelados e visões proféticas tinham antecipado de forma tão concreta?"
No primeiro texto, a importância do livro. As suas traduções. O seu vocabulário e a sua sintaxe. William Tyndale e Shakespeare. E... "Como estariam despidas as paredes dos nossos museus, despojadas das obras de arte que ilustram, interpretam ou se referem a temas bíblicos. Quanto silêncio haveria na nossa música ocidental, desde o canto gregoriano a Bach, de Handel a Stravinsky e Britten, se eliminássemos trechos de textos bíblicos, dramatizações e motivos. O mesmo se pode dizer da literatura ocidental. A nossa poesia, o nosso drama e a nossa ficção seriam irreconhecíveis se omitíssemos a presença contínua da Bíblia."

Segunda sugestão, de Ana Teresa Pereira: Histórias Policiais. Três histórias, duas já editadas em 1993 e uma nova: Numa manhã fria.
E ainda um belo texto sobre os seus dez policiais preferidos.
Terrivelmente maravilhosas.

É a vida.


posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, agosto 23, 2006

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