terça-feira, julho 04, 2006
AR tv directo ou gravado
Num país onde a maior parte dos dias se fala sobre a ocupação de lugares de carácter político, de eleição ou de nomeação, e de condecorações (verdadeiros desportos nacionais, só que disputado em e entre gabinetes e escritórios e outras salas, onde os critérios de selecção são muito... quer dizer... nem sei o que dizer, olhe-se para o país) é natural que haja pessoas que não compreendam a euforia e a dedicação do povo português ao futebol. É natural que ainda não tenham percebido, muito natural. É que mesmo aqueles que hoje ocupam esses lugares não ficariam tão contentes com os resultados da nossa selecção se não ocupassem esses mesmos lugares. E é por isso que se põem em bicos de pé. Não há solução, é uma fatalidade.
Ainda não perceberam, os políticos deste país, que já ninguém, ou quase ninguém, acredita neles. Não percebem nem conseguem fazer sonhar o povo, apenas as suas famílias e amigos. Comecem por distribuir melhor a riqueza e talvez as coisas comecem a mudar. Repito: d-i-s-t-r-i-b-u-i-ç-a-o-d-e-r-i-q-u-e-z-a.
"Onde é que acha que Portugal pode chegar?"
Figo
Caro David:
Em primeiro lugar, parabéns pelo excelente Fútbol Arte.
Em segundo, esperava que olhasse para Portugal, melhor: para a selecção portuguesa de futebol, de outra forma de uma forma mais elogiosa. Sabe porquê? Porque é uma excelente selecção. Temos sido aquela que a par da Costa do Marfim, Argentina (da primeira fase), Espanha, Gana e Itália tem jogado mais e melhor. É que o futebol, como sabe, não é só correr em direcção à baliza adversária. Dou-lhe um exemplo: por estes dias enquanto via o jogo de Portugal contra a Inglaterra na casa de um amigo a mãe dele a certa altura disse o seguinte: "os jogadores portugueses parecem bailarinas, os seus movimentos são tão bonitos, e em câmara lenta então...".
Sim, é a partir daqui que podemos começar por justificar o porquê de dizer que a selecção portuguesa é uma das melhores. Para mim, é a melhor.
É uma das que melhor defende e é uma das que melhor troca e controla a bola e os sentimentos. Os alemães, por exemplo, ainda não deram o salto e não percebem que atrasar a bola ao guarda-redes é uma manobra de diversão que sai bastante cara a quem acha que eles estão a passar tempo ou a jogar na retranca.
Mas também é uma das melhores porque os jogadores portugueses são daqueles que escondem muito bem a bola dos adversários, à semelhança do que faz Federer no ténis, Wade na nba, e Homero na poesia, entre outros, claro. À semelhança de Figo, Deco, Cristiano Ronaldo, mas também, por outro lado, Ricardo Carvalho, Maniche, Costinha e Miguel que não deixam o adversário escondê-la, não deixam.
E assim a selecção portuguesa pode estaporar (esta palavra não existe no dicionário de língua portuguesa mas existe, e bem, na cabeça de muitas pessoas, um exemplo: Bruce Lee estaporou meia dúzia de malfeitores que tinham a intenção de lhe partir os quadris) o jogo de um momento para o outro. Pode. Podemos perder? Claro que podemos.
Tudo isto para dizer que a única coisa que falta aos jogadores portugueses é meter na cabeça que têm de evoluir tanto como os jogadores italianos, que fazem de tudo para ter a bola e não a perder, como se cada lance fosse entre comer um Magnum Branco ou um Calipo.
É por isso, e termino já, que este é o mundial de Luís Figo. Ah, pois é! Quanto ao vestuário, somos vaidosos, sim, muito vaidosos. Gostamos de sair à rua bem apetrechados. É a vida.
Famalicão-Braga, Braga-Famalicão e a auto-estrada para o Porto
A Casa das Artes de Famalicão mudou de programador há cerca de dois meses. Paulo Brandão trocou Famalicão por Braga. A Casa das Artes pelo Teatro Circo. O que Brandão fez pela Casa das Artes foi apenas colocar Famalicão no mapa das salas mais bem frequentadas deste país, com bilhetes a preços muito acessíveis. Entre os 5 e os 10 euros. Nos últimos cinco anos passaram pela terra de Camilo grandes nomes da música independente actual. Nem vale a pena enumerar. Foram dezenas. Vi pessoas chegarem do Porto, Lisboa, Vigo, Aveiro, Braga etc. No teatro a mesma coisa, embora a sala só encha quando vem alguém que costuma aparecer na televisão. Para os Artistas Unidos, por exemplo, a casa apenas teve, das duas vezes, um terço. Infelizes daqueles que não aproveitaram. No bailado a mesma coisa. Na dança também. Enfim.
Tudo isto deu à Casa um corrupio muito muito agradável.
Ora, sucede que a Câmara de Braga se apercebeu do que se estava a passar alí a 15 quilómetros e vai daí que temos de fazer uma proposta ao homem, para a recuperada sala de Braga, que demorou muito muito tempo a estar pronta e acho que ainda não está. Ora, sucede que a Câmara de Famalicão não segurou Brandão. E ele foi.
O Sporting Clube de Braga também não quis segurar Jesualdo. E Jesualdo foi. Para a Boavista.
O que vale é que Braga fica aqui pertinho, pertinho.
A lesão combinada no balneário
Não sei se sou eu que estou cego ou não percebo o que os jornalistas da Europa e alguns dos Estados Unidos andam a dizer sobre a selecção portuguesa de futebol. Disse Ribery: "os jogadores portugueses procuram o confronto, são muito conflituosos. Foi o que vi no jogo entre eles e a selecção holandesa". A sério? Que jogo viu Ribery?
O místico
Há por aqui, blogosfera, quem se vergue a determinadas convenções e a determinados beija-mãos. É natural. Presumo que seja assim em todos os sítios, mais distantes ou aqui ao lado.
É que não se percebe, ainda não percebi, o silêncio sobre a exibição de Ricardo aquando do jogo do Sporting no Porto para a taça de Portugal. Então não é que Ricardo a certa altura pega na bola e com 50 000 a insultá-lo decide marcar uma das grandes penalidades?
Sim, sei, agora é fácil. Sim.
Loas, mais loas e loas ainda que despropositadas, pelo menos até agora
Já não faltam por aí vozes a dizer que este é o mundial de Zidane. Principalmente pelo jogo que ele fez contra o Brasil. Mesmo a jogar com dois trincos Zidane não teve em nenhum momento do jogo alguém tipo carraça a morder-lhe os calcanhares e a entrar de joelho ao músculo só para o avisar, ninguém. Fez o que quis quando e como.
Até no centro para o golo francês Roberto Carlos achou que era mais importante zelar pela sua boa apresentação do que marcar Henry.
É que isto de ter lugares marcados tem que se lhe diga, tem mesmo. Se assim não fosse Roberto Carlos não estaria na Alemanha e mais grave ainda todo o jogo do Brasil não passaria pelos seus pés. Isso é que foi incrível.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, julho 04, 2006