sexta-feira, março 24, 2006
Caracóis, Sandálias e Traições (8)
Realpolitik.
Está na hora Bruto. Despe. Podes. Chega. Quantas máscaras vais ainda mostrar?
Os putos lá fora desafiam Pulo. Cá fora como lá dentro. Ele levanta-se e eles fogem. Correm.
O arauto: boa recompensa pelo regresso de uma escrava roubada ou fugida. Agora já há quem o ouça. Mais: "os seguintes nobres regressados da Grécia receberam o perdão de César e não podem ser importunados", Casca, Cícero, Longino e Bruto. Ai de vós. Ai de vós. E continua: "O traidor Pompeu fugiu para o Egipto. O glorioso César segue-o." Ah, está bem.
Egipto. Aquelas colunas. Aqueles hieróglifos. Volver. Marchar. Posca olha de esguelha para aquele que diz "contemplem Ptolomeu, O das Duas Damas, O da Salva e Abelha." "Ptolomeu, Filho de Rá, Ptolomeu, O Divino." O séquito deste ri-se de César, por ele se dirigir ao Divino Ptolomeu de uma forma desabrida.
Não sabem nada sobre a guerra que está a ser preparada. E também não o percebem. Nem querem ouvir falar da irmã. Parece que ouviu maus conselhos e "só tem o apoio de traidores e bárbaros." Mas César diz que não, que há dez legiões prontas a lutar por ela. Pergamum. Mas parece que ninguém sabe dela. Posca sabe que sabem.
Os cereais não estão em perigo. Do farol às Cataratas. Poder absoluto.
E Pompeu? Não gosta? "Sobre o crocodilo e a Raposa?" A surpresa? Com esse sorriso? Já vais ver. "Que vergonha para a casa de Ptolomeu por tal barbaridade. Que vergonha. Um cônsul de Roma, morrer deste modo sórdido?" Cercados. Ridley Scott.
Marco António segue. César fica. Guerra Civil. Os cereais. Não vai ser preciso lutar. Não viste que os putos fugiram? Chega arbitrar, dizes. E o ódio?
Marco António e César e a húbris. Se começou!
Dizes-lhe, César, "para obedecer a tudo, dentro da razão." Pois. Dever.
Não há assassino? Em nome da República, venho receber. Posca: 17 milhões dracmas. "Os juros póstumos."
"Posca: É a lei.
Eunuco: A lei romana.
César: Há mais alguma forma de lei, mulher desgraçada?"
Ptolomeu enerva-se. Vassalo? "- Senta-te!"
Dez mil. Não? Cleópatra.
Pulo e Voreno e os deuses. "O Egipto era uma grande nação muito antes de Roma." "Porque estamos aqui?", pergunta Pulo.
Ptolomeu chama "escumalha bárbara" aos romanos, a César.
Eunuco: "É extorsão pura. Se não lhe pagarmos, coloca Cleópatra no trono." Bananas. Woody Allen.
"Ela tem de morrer."
"Noite ou dia?"
Septímio. Posca lê: ... etc.
"Se lhe tocas morres."
Voreno não esquece "dentro da razão", Pulo salta.
Sim Ptolomeu, sim, os teus assessores andam de olhos vendados.
Cleópatra: "E para quê salvar-me da morte tão heroicamente, senão para utilizar-me como tua rainha-fantoche?"
Oliveira Martins: "Varridas as impressões fúnebres, e uma vez que estava no Egipto, achou conveniente deixar resolvida a pendência. Desembarcou as duas legiões e os oitocentos cavalos que trazia e foi alojar-se com elas no paço dos Ptolomeus em Alexandria para julgar o pleito entre os dois co-reis. Suspendeu as hostilidades, nomeou árbitros e restaurou no trono os irmãos esposos, que vieram apresentar-se-lhe, dando aos filhos segundos do Auleta, Arsínoe e Ptolomeu, o Moço, Chipre em apanágio.
Para si reclamou apenas a indemnização de dez milhões de dinheiros (1850 contos de réis).
Alexandria, porém, vastíssima cidade cosmopolita, maior do que Roma, mais confusa ainda na variedade das suas gentes, na devassidão dos seus costumes, no desbragamento da sua demagogia; Alexandria, com a qual o exército romano de ocupaçã, desnacionalizado por uma residência demorada, fez causa comum, teve um acesso de loucura furiosa, como o de Paris em 1871 diante do alemão. A capital sublevou-se contra César, que descansava das fadigas da campanha macedónia nos braços de Cleópatra, e cercou-o no paço. Acordadndo do seu sonho delicioso, César prendeu o rei Dionísio e o seu valido Potino, entrincheirou-se no palácio, mandou queimar a esquadrae ocupar a ilha do Farol, que era uma das sete maravilhas do mundo, dando ordens às tropas da Ásia para descerem sobre Alexandria. Com este episódio de uma campanha no Egipto não contara ele -- nem com as sensaçõesnovas que Cleópatra dava aos seus sentidos já fatigados.
Era uma verdadeira guerra. O sentimento de independência nacional acordava. Arsínoe e o eunuco Ganimedes, seu valido, estavam à frente das tropas que levantavam o Egipto inteiro; nas ruas de Alexandria havia batalhas todos os dias, havia-as no porto. Cada vez o cerco do palácio se apertava mais e um dia os alexandrinos tomaram a ilha do farol, pondo em risco a vida de César. Felizmente, nesse apuro, chegou por mar uma legião da Síria e o Farol e o molhe foram reconquistados. Quase ao mesmo tempo chegava por terra, com o socorro desejado, Mitridates de Pérgamo, o que se dizia filho do Eupator, o grande Mitridates do Ponto; trazia itíreus do príncipe do Líbano, beduínos de Jâmbico, judeus, e contingentes das pequenas repúblicas da Síriae da Cilícia. Com essas forças ocupou Pelusa e marchou sobre Mênfis, desbaratando o exército de Arsínoe, ao mesmo tempo que César, numa surtida feliz, conseguia escapar de Alexandria e trazer a junção com o seu salvador. Efectuada esta, aniquilaram completamente as forças egípcias. Os que não morreram na batalha, acabaram afogados no Nilo: entre estes estava o rei Dionísio, que César soltara um dia, a ver se assim acabava com a insurreição alexandrina.
Vitorioso, César entrou em Alexandria e foi clemente. Exortou apenas os habitantes a que se deixassem de guerra, cultivando somente as artes da paz; e para confirmar o dito pôs três legiões de guarnição à capital. Deu o trono à sua querida Cleópatra, associando-lhe o irmão mais novo Ptolomeu, o Moço; mandou Arsínoe, presa, para Itáliae anexou Chipre aos domínios da república.
Senado: Bruto, Cícero e Marco António.
Cícero: "Não devias ter má consciência, Bruto. Só fizemos o que tínhamos a fazer."
Bruto: "Saturno deve ter dito algo semelhante depois de comer os filhos."
Ai Cícero, Cícero, Cícero. Um ou dois, diz Marco António. E eles atónitos. Bruto raivoso. "Se um pombo morre no Aventino, fico a saber."
Oliveira Martins: "Enquanto o príncipe andou pelo Egipto e pela Ásia, Roma e a Itália assistiram a espectaculos de um desbragamento inaudito. As noites do regente [Marco António] eram orgias doidas; os bordéis romanos resplandeciamde luzes, e pelas ruas soavam músicas entoando sinfonias do reino de Falo. A corte de António era uma corte de mulheres públicas, de cómicos, de mímicos, de bufos. Sérgio, o mímico, levava-o pelo beiço, e nas bodas do bufo Hípio o regente passou a noite inteira a beber; na manhã seguinte, tendo convocado os comícios, vomitou do alto da tribuna. Regalava-se em ofender a gente honesta obrigando-a a aboletar meretrizes, transformando-lhes as casas em bordéis. (...)
Quando os companheiros de outros tempos viam António triunfante gozar assim a vida, a inveja mordia-os. Célio escrevia a Cícero convidando-o, excitando-o, e dizia-lhe: «Que me importa essa glória de César, se eu não a partilho?» Derrubar o príncipe ausente, fazer a revolução, era o pensamento de todos os demagogos, seus antigos sócios que se não tinham bandeado."
Pulo e César e...
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, março 24, 2006