A montanha mágica

quarta-feira, março 15, 2006

Caracóis, Sandálias e Traições (7)








As ondas baixaram. A rebentação não. É preciso avançar. Se da outra vez os passos tinham sido doze agora foram nove. E aquele que correu convencido que ia vencer... afinal perdeu. A rebentação de Roma. Testamentos. Beber sangue? Outra vez, pelo mesmo caminho? "Só faria mais sede", dizes, bem. Já sabes como é. Devem ser milhões e por isso difícil de se encontrar. A jangada. A rebentação acalmou. A salvação. Quando acordam dão de caras com ela. Do que resta, digo. Da que era. Calma, calma. Hás-de levantar-te. Não é preciso correr, Pulo. "E não apontes." Voreno, soberano e ambíguo. Não morres, Voreno, porque a Fortuna está contigo.

César: os bárbaros de outrora, os seus homens, assam e comem ratos e ratazanas. O campo de descanso é um campo de preparação dos guerreiros (legionários). Redesenham-se estratégias até Posca lhes dizer (a César e Marco António), que "os mapas nunca se redesenham, se é disso que estão à espera." Marco António não tem dúvidas de que vencerão e que farão deles "comida para vermes." César empurra-o dizendo devagar "comida para vermes". César, muito confiante, na manhã decisiva ouve Posca e responde-lhe:
"- Posca: Temos uma desvantagem de 3 para 1 a pé e de 5 para um a cavalo. Os homens que temos estão cheios de medo, fome e desespero.
- César: É essa a vantagem que temos de aproveitar.
- Posca: Desconhecia que a ironia tinha utilidade militar.
- César: Temos de ganhar ou morrer. Os homens de Pompeu têm outras opções."
César diz adeus a Posca. Quando é que se diz adeus? Adeus, o que quer dizer? "César, César, César" ovacionam César.
Cícero e Bruto apresentam-se. Marco António não gosta. O que é que César não percebeu? Diz-lhe Bruto que "não esquecerei esta mercê", mas não parecia nada convencido disso. Marco António dá o sinal.

Oliveira Martins: "O exército dos pompeianos não passava de um agregado sem nexo de soldados desmoralizados. Toda a nobreza romana se alistara na cavalaria; mas esses esquadrões de janotas sérios, vestidos, equipados com primor, valiam menos do que a infantaria de veteranos. Tinham trazido para o campo o luxo da capital. As tendas eram ajardinadas e nos caramanchões viçoso, sobre a relva fresca, entre ramos e grinaldas, repetiam-se os banquetes opíparos em baixelas de prata e ouro e o vinho e o amor estouravam embriagantes. Como resistiria essa gente tão fina aos demónios negros de César, gente que ele trazia do fundo da Gália, da fronteira da Germânia; gente que se sustentava a broa negra e na falta dela comia as raízes e as cascas das árvores antes de render-se?... Os homens frios desesperavam. Muitos arrependiam-se, lamentando a hora em que tinham recusado os convitess de César. Apenas Catão, o justo, moderado o génio pela desgraça, falava com acerto; a sua rigidez, o seu quixotismo de outrora transformavam-se num juízo claro e iluminado por um grande sentimento de amor e caridade. Como que se convertera, e vendo de perto a miséria humana, varria para longe as suas antigas ilusões teóricas."

Pompeu: no espaço "pompeiano" trata-se de distribuir o que se ganhou sem ainda ter ganho.Torcato, Varro, Labieno, Libo. Temos de agradar a todos para não desagradar a ninguém. Para não levantar ondas. Aqui fica bem. Estes fogem da rebentação que é uma coisa maluca. A refeição é um banquete. Pois, Pompeu, devias ter dito isso logo no início da confraternização e redistribuição de terras e cargos: "estão a cozinhar coelhos que ainda não apanhamos." Mas os teus assessores estavam piores que tu. Oh, assessores. Até Catão, até Catão pensa que "o coelho está pronto para a panela." Depois percebe. Bruto e Cícero estão mais reticentes. Um diz o que pensa o outro terá poucas dúvidas, quando o momento chegar. Catão está com pressa. Quer esmagar. Pompeu quer que seja a fome. Catão quer que seja a força. Diz que "decerto a dignidade e a honra exigem que caminhemos no seu sangue." Cícero aqui não tem dúvidas. Pompeu apreensivo. E aquela refeição é todo um oceano de diferenças, querer e ambição. Já vamos ver.
Pompeu continua muito apreensivo na manhã decisiva. Pompeu tomba. O legionário que vê Pompeu a sangrar encostado a um tronco foge e não fica para o defender dos homens de César. Quem os visse à mesa, aquando do banquete. Vão-se separar. Cícero: "somos velhos com lama nos sapatos." Se ainda fosse pó! Cícero decide-se, Catão enerva-se, Bruto descuida-se e pede desculpa e segue o primeiro. A caminho de Amphipoli. Põe a máscara. Eneias Mela. Lysandros. Nobres, sem dúvida, as novas funções de Pompeu. O leão. Alésia. Salva-se, mas morre na praia.

Oliveira Martins: "Os pompeianos, desolados pela perda da sua cavalaria, viram-se perdidos. O próprio Pompeu retirou-se do teatro da acção para o acampamento, sozinho e triste: sabia que pouco se podia esperar da sua infantaria. As legiões cederam, foram recuando, e abrigaram-se no acampamento. Era decerto uma vitória que César ganhara, mas o exército inimigo podia dizer-se intacto. Destruiu-o Pompeu fugindo às escondidas em busca de um navio onde escapasse: tal era a falta de confiança, tal a ausência de coesão entre o exército e o seu general.

Os egípcios, já sabedores do resultado de Farsália, iam recusá-la mas surgiu neles a ideia de matar Pompeu, resolvendo assim as dificuldades que a sua presença levantaria perante o grande número de clientes pompeianos alistados no exército do rei do Egipto. Foram pois a bordo e com frases muito afáveis convidaram-no a descer ao escaler para ir à presença do rei. Pompeu, sempre indiscreto, aceitou, apesar dos sobressaltos e receios da esposa e do filho, que da amura do trirremo viam o escaler vogar para a praia. Pompeu, grave, à popa, ia declamando num tom pomposamente triste o discurso grego que redigira para ler ao rei. Numa pausa, reparou em Septímio que o conduzia e perguntou-lhe se não fora soldado seu na campanha da Arménia; Septímio, silencioso, abanou a cabeça afirmativamente. Pompeu seguiu lendo -- a mulher e o filho de bordo do trirremo, ansiosos, olhavam. Nisto o escaler bateu na areia da praia, Pompeu levantou-se para desembarcar e, quando se voltava, Septímio enterrou-lhe a espada nos rins. Ferido, perdido, o infeliz cobriu a cabeça com a toga e não opôs resistência às estocadas que todos os do escaler lhe davam. E de bordo a esposa e o filho assistiam em lágrimas ao assassinato. Na véspera fizera cinquenta e nove anos. Jazia por terra na praia solitária o cadáver, quando a nau levantou ferro, e os gritos de aflição de Cornélia e os soluços de Sexto perdiam-se no clamor da manobra."


O arauto informa desta vez que Marco António se salvou mas a maioria dos navios que foram para ajudar César não. Átia pressente o perigo. O arauto pressagia uma vitória do Senado. Para breve. E mais duas dará. Ou três.

Átia manda Octaviana pedir ajuda a Servília. "Preferias ser violada...?" "vais recordar a Servília a truta velha que se tornou." Dos choros e da sua consolação. Começa-se a tecer. Primeiro e segundo. Servília manda Ajax. É amiga. Átia não compreende o porquê de tanta oração. A oração não foi ouvida. Nem a chegaste a terminar. Servília fica a saber que as suas maldições não foram ouvidas. Coabitação.

Oliveira Martins: "César chegou tarde. Partira açodadamente de Farsália com um punhado de homens; passara o Helesponto numa barca e de caminho aceitara a entrega que lhe fizeram da esquadra do Euxino, atónita com a notícia da vitória; mas com toda a sua rapidez na perseguição do rival não conseguiu chegar a tempo a Alexandria. O vil assassinato estava consumado e quando trouxeram a César a cabeça do sogro, ele voltou a face angustiado; quando lhe deram o anel com o selo tão se conhecido ? um leão armado com uma espada ? o vencedor chorou sinceramente. A morte de Pompeu era uma dupla desgraça! Os filhos, ambos moços, e Sexto, que era homem hábil e capaz, ficavam à solta: dar-lhe-iam trabalhos...


posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, março 15, 2006

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