sexta-feira, fevereiro 24, 2006
"«O homem deitou uns incensos numas brasas, separou o fumo com as duas mãos, e por essa abertura os prisioneiros saíram para um jardim.»
«A velhota abeirou-se dela, passou-lhe diante dos olhos a roca movendo-a da esquerda para a direita no ar, e a rapariga viu um vale boscoso e uma clareira que lhe eram conhecidos e deitado na erva o seu amante».
«Sonhei que dos subterrâneos saía uma palavra. Vinha lá do fundo, passou à minha frente: eu vi-a e era pavorosa».
«Quando vagueava pelos montes ele tomava habitualmente o aspecto de um muar meio putrefacto. Trotava sobre as patas anteriores, com a cabeça e o pescoço ainda cobertos de pele, arrastando atrás de si o esqueleto de todas as outras partes».
Exemplos de pura criação, de transmutação das espécies por meio da palavra."
Cristina Campo (trad. José Colaço Barreiros), Os Imperdoáveis, Teofanias - Assírio & Alvim, 2005.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, fevereiro 24, 2006