domingo, fevereiro 12, 2006
"Ao sentar-se no tronco viu a pegada mutilada -- os sulcos paralelos e tremendos feitos apenas com dois dedos, que se encheram de água ante os seus olhos. Ao erguer os olhos, a selva uniu-se, solidária -- a clareira, a árvore que ele procurava, o mato, o relógio e a bússola a cintilarem, quando aflorados por um raio de sol. E, então, viu o urso. Nao o viu surgir, aparecer; estava apenas ali, imóvel, sólido, de olhar fixo nas pinceladas tórridas de um dia verde e sem aragem, não tão grande como o tinha imaginado, mas tão grande como esperava que ele fosse, maior até, recortando-se sem dimensão na penumbra pincelada de luz, a olhá-lo sentado no tronco e em silêncio, devolvendo-lhe o olhar."
William Faulkner (trad. Ana Maria Chaves), "O Urso" in Histórias Inéditas, Vol. I, Publicações Dom Quixote, 1998.
posted by Luís Miguel Dias domingo, fevereiro 12, 2006