A montanha mágica

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Caracóis, Sandálias e Traições (3)





daqui





Átia disse que estava arruinada, estavam arruinados, o que a deixou visceralmente zangada, para não dizer outra coisa. Vai daí, espanca-se o escravo. Ela chega ao fim mais cansada do que ele.
Entretanto, Brutus disse que era um acto de traição César ter passado o Rubicão. Não, espera: disse: traição suicida. Foi assim, sim.
E depois Catão pergunta a Pompeu se ouviu e este diz que acha estranho. Desvairado. Mesmo. Catão responde-lhe -- melhor: apatecia-lhe ligar a César uma daquelas máquinas tremideiras das oliveiras --, raios Pompeu! Raios.
Marco António e César sobre o sacrilégio da vitória ou da derrota.
Voreno e Pulo à fogueira e tal e coisa e assim e tal, pois, sim. De Narbo a Tebas.
Átia diz-lhe que a bosta de cavalo, acerca do perfume, lhe fica melhor e ele diz-lhe que... ainda lhe pergunta se depois dos conselhos e dos perfumes se quer atrever a algo mais... e ele diz-lhe, dizia, que agradece.

Os homens de Pompeu fogem à frente dos bárbaros de César.

Catão? Pompeu? Sim. 30 milhas.
Pompeu diz a Catão que é um bando armado mal preparado. Sim. Sim. Pois. Claro. Pouco ético, dizes. A Cícero, incrédulo, parece-lhe mal. Olha atacar Roma directamente! Não pode. Não está bem. Está mal. Cipião também parece não acreditar. Ah!, afinal sabes, Pompeu, que os teus homens fugiram à frente do bando mal preparado. Mesmo sendo jovens. Certo. A Catão quase lhe dá outra apoplexia, sim a segunda. Roma não está defendida? Cruzes! Cícero faz bem contas de cabeça. Olha quem. Pompeu com aquela destreza diz-lhe que ele acaba de pôr o dedo na ferida. Claro.
Catão continua inconsolável: "- Deixar a cidade? Rata de Juno, enlouqueceste?" Vê lá para quem falas assim, diz-lhe Pompeu, irado. Cícero, o apaziguador. A rara espécie de vitória, segundo Catão que leva Pompeu a dizer-lhe para ter calma, enfurecido. Diz-lhe que não compreende os assuntos militares... blá, blá, blá. Toma lá, de Catão: "Perdeste Roma sem desembainhar a espada. Perdeste Roma!

Oliveira Martins: "O cesarismo que perverte a noção clara das coisas, que torce a justiça, que corrompe a moral, que esmaga com a Razão-de-Estado as instituições e as leis, começa por ser a vitória da intriga sobre a franqueza para depois se tornar a vitória da força sobre o direito -- vitória todavia inevitável quando as sociedades chegam ao ponto a que chegara a romana, em que moral, justiça, direito, constituição, leis são para o comum da gente ficções apenas e só realidades para a minoria mínima dos retrógrados visionários à maneira de Catão..."

Oliveira Martins: "Todo o centro, todo o sul eram pompeianos. As classes médias apavoradas viam na vitória do sobrinho de Mário, do genro de Cina, do aliado de Catilina, do antigo demagogo devasso das praças de Roma, uma volta ao tempo dos horrores antigos, das saturnais medonhas da demagogia. Só a ínfima plebe da capital e os seus cabecilhas perdidos batiam palmas supondo que o seu reinado ia voltar, porque a gente grave, que ele comprara a dinheiro, gravemente se voltava para Pompeu -- o homem sério, o homem de ordem.
Rei de facto na metrópole, Pompeu tinha todos os recursos da república. Em roda dele apertava-se o rebanho assustado de toda a gente «que tinha que perder», contando com as suas dez legiões -- duas das quais eram porém as dos transpadanos de César, que lhe metera esse veneno no exército para o tornar tão pouco homogéneo como os partidos que aclamavam chefe o grande vazio herói. Ao acampamento de Pompeu acolhiam-se todos os senadores fugidos à pressa de Roma, pálidos, tremendo, disfarçados em trajos de escravos; e o general trovejava batendo o pé à espera das legiões, ejaculando frases de um desprezo olímpico por esse homem, ameaçando com a sua ira os que se não declarassem terminantemente. Esta segurança infundia sossego na pobre gente séria que aflita só dele esperava a salvação."


Octávio, cala-te, disse-lhe Átia.

Brutus a dizer que não os abandonou. Lembra-te destas palavras daqui a meia hora.

Dúrio? Sozinho? Pompeu, Pompeu!

Roma e a gruta dos Ciclopes.

Pulo o anatomista.

Um palco, melhor: os bastidores do palco. Quem mata quem, em amena cavaqueira. Deixas. A inscrição na porta.

Depois da obrigação de todos os cidadãos de Roma terem de atacar César caso o vissem agora devem é deixar Roma senão serão considerados traidores.

Brutus escandalizado, inconformado, indeciso. Vai Brutus. Vai. Tem razão a alegação de Brutus? Ui Brutus, ui! 4 x Brutus.

As estrelas. Nunca, disse Voreno. Pássaro gigante. Filosofia. Difícil. Ouro.

Carroça abandonada, galinhas, ervas, ruas desertas, pedintes, templos abandonados, ruas sujas, pouca luz.

Catão preocupadíssmo com Dúrio. Pompeu sossegadíssimo.

Voreno: "Se os deuses não são respeitados, porque hão-de ajudar-nos?"

Deve-se tirar o calçado, sacudir a poeira e partir. Deve-se.

E lá vai Roma, perdida, sem condutor, sem rumo, atravessada, deitada, maltratada, atada, rica. É de quem tiver força para a pôr a mexer.

De onde se prova, comprova digo, que quem jura mais mente.

Graco...


posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, fevereiro 15, 2006

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Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
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