A montanha mágica

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Caracóis, Sandálias e Traições (2)






daqui




"Esta posição [fronteira da Gália próxima de Itália] é muito precária. O que contecerá em Janeiro, quando o teu mandato terminar e ainda aqui estivermos?", pergunta Posca.
E pergunta outra vez: "500.000? O que é isto?"
César: "Candidatei Marco António à eleição para Tribuno do Povo. É preciso comprar muitos votos."
Posca: "Marco António para Tribuno do Povo? Mas ele..."
César: "Podes falar."
Posca: Pensava que o Tribunato era um cargo sagrado, com poder de veto sobre o Senado."
César: "E é."
Posca: "Um cargo de grande dignidade e seriedade."
César: "Talvez tenhas razão [aquele sorriso cínico]. Mandaremos Estrabo para assegurar que António se porta bem."

Entretanto, algures... dois rebanhos esperam.

Octávio espreita.

Pulo: "Vou beber todo o vinho, fumar todo o fumo e comer todas as putas da cidade."

Voreno: Dignidade?

Olhem, olhem Pompeu e Catão. Olhem.

Catão: "Nós temos os homens de posses. Eles que fiquem com o amor dos plebeus e da arraia-miúda." Pois, pois Catão.

Octávio espreita.

Quando Marco António diz a Octávio para este dizer a sua mãe que mais tarde a visitará. A expressão dele. Não esqueceu os rebanhos.

Átia: "Castor!
- Domina?
- Traz os cães."
Pernas para que vos quero.

A vingança será servida à mesa. Fria? Não. Tórrida.

Octávio sabe recompensar. Valora bem.

Átia: "É simbólico. Cearemos todos juntos, como iguais."

A conversa entre Átia, Pulo e Voreno. A república actual, a sua fundação, os plebeus, os homens de posses, Catão, Pompeu e César.

Octávio já aprendeu. Pulo.

Átia: "Venham visitar-nos de novo. Octávio precisa de amigos de confiança. Espero que possa contar convosco." Não dormes, tu não dormes.

Voreno: "Os bordéis mais limpos são na Suburra, perto do templo Venéreo."

Voreno tem quase uma apoplexia e ouve a mulher exclamar "Estás vivo!", e quase que sai a correr a entregar a criança aos braços da filha. A neta? Ela só lhe sorri quando ele lhe diz que deve ter aí à volta de 10.000 denários. Ele não acha piada.

Pulo lá anda. Até vai andar de lado.

A reunião invisível, nas palavras de Catão. O Che brutta figura (bella!) de Marco António. Cícero. Catão. Átia. Pompeu. Cipião.

Diz Átia: "Que congregação de heróis! Tanto vigor! Sinto-me uma Helena de Tróia."

Só dissimulação. Política. Octávio espreita.

"- As neves derretem na primavera.
- Isso é uma ameaça?
- Asseguro-te que não é uma ameaça. As neves derretem sempre." Voilá!

Catão alarmado. Cícero no limbo. Pompeu enfurecido. Cipião angustiado.

Cícero: "A serpente moribunda não é a que morde mais fundo?"

O galo.

Opera-se quem? A pequenita observa desassombradamente. Tranquila. A mudança está perto. Ela já a espera. O que é preciso extorquir é o que está dentro da caixa, não é a caixa. Eles sabem que a mudança está perto.

Nos primeiros dias, "haverá pus abundante, primeiro pútrido, depois saudável e talvez ataques do baço, mas tudo será bem." César? "Seguir-se-á a purgação do mal." Siga, César!

Níobe muito zangada, muito.

Nas bancadas da arena Pompeu tenta "comprar" Cícero, como amigo claro está. E aos amigos dele também, claro.

No Senado ouvia-se mal, não? Falta de voz? Entra Cipião. Catão ouve. Marco António parece espantado. Cícero não sabe o que há-de fazer. A voz. Pois é Cícero, tens de te decidir. Tens de te mostrar. Mas agora tens de optar. Pois. Vá. É a vida. Vês? Não há truques. Truques Pompeu?

Oliveira Martins: "O governo das províncias terminava-se-lhe no último dia de 705 e no primeiro de 706 seria cônsul; o plano dos tribunários catonianos era pôr um intervalo entre o proconsulado e o consulado para o poderem acusar (durante o exercício da magistratura o magistrado era inviolável) e daí perdê-lo para todo o sempre. Discutia-se isto, em permanência no seio do Senado cuja minoria, arrastada por Catão e confiando na força de Pompeu, se unira contra César. Este, vendo a guerra iminente, mandou como ensaio uma legião para a Cisalpina. Catão declamou, gritou; Pompeu, barafustando, impava de orgulho balofo, declarando que lhe bastava bater com o pé para que as pedras se tornassem soldados e de todo o solo da Itália surgissem legiões. Veriam, se as tropas de César não eram as primeiras a aclamá-lo a ele --Pompeu! o Magno! o Grande! o Enorme! o Magnífico! o Colossal! a ele, Pompeu, herói entre os heróis! E com um desdém grandioso dizia que quem não fosse por Ele, era contra Ele. César ao contrário afirmava sagazmente que seriam por ele todos os que se não declarassem contra..."

Leónidas nas Termópilas. O Rubicão, Alea iacta est. A Guerra Civil é já amanhã.

"Todos os bons cidadãos de Roma são obrigados a fazer mal a César quando tiverem oportunidade."

Che brutta figura.


posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, fevereiro 08, 2006

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Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
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