segunda-feira, novembro 28, 2005
Até estava aqui sossegado, muito sossegado, quando na Sic Notícias começa a dar uma reportagem sobre George Best e logo a seguir, em comparação, sobre Vítor Baptista. Horrível, horrível. Tanta condenação, tanta chamada de atenção, tanta presunção moral, tão mau gosto. Olha: tu vê lá, não faças isto, aquilo e aqueloutro, tem muito juízo, olha pelo teu dinheirinho, ganha juízo, senão... se não já sabes. Horrível. E com que júbilo repetem e repetem e repetem que foi o primeiro futebolista mediático, dos dias de hoje.
E depois, logo a seguir, dão uma reportagem sobre Richard Burns, ao volante, intitulada "imagens de uma vida", e põem lá um separador vermelho a dizer "sem palavras".
Haja paciência.
Sobre futebol: o SL Benfica anda a ser prejudicado pelas más avaliações dos árbitros há quatro, sim 4, jornadas. Desde a Figueira da Foz. Não, não vale a pena falar do penalty em Braga. Não vale.
Nuno Assis: não jogou em França porque dois remates, grandes remates, que efectuou passaram a 12,7 cm do poste de duas balizas defendidads por dois guarda-redes. Com o Belenenses foi o terceiro. De modo que o sr. Koemen prefere jogar com Beto a distribuidor. São escolhas. Pessoais. Erradas. Para mim. E como sou eu que estou a escrevinhar, primeira, portanto...O regresso do educação sentimental.
Voltando a George Best: falávamos dele, no campo velho, com magia e desconhecimento por termos ouvido falar ou depois de termos visto algumas imagens na tv. E depois -à semelhança daqueles tipos que vão ver filmes de Bruce Lee ou assistem à luta livre e saiem à porrada por lá fora, ou daqueles que vão ver rally e depois transformam as estradas nacionais, regionais ou locais, em troços esventrados de segurança- tentávamos fazer como ele: passes geniais e fintas de um lado ao outro do campo (só para alguns; não tinha, tenho, pés e arte para isso), fintar o guarda-redes -que entretanto se tinha saído convencido que podia por termo àquele estado de embriaguez- parar a bola em cima da linha de golo e ajoelhar-se e empurrá-la para além dessa linha mágica com a cabeça. E depois gritar e gritar até levar um pontapé no cu de um dos adversários que perder ainda vá lá mas gozar isso é que não.
On the Kazan Front:
Aptly he quotes a passage like the following from Ciment's book, about a confrontation with the notorious studio head Louis B. Mayer during Kazan's shooting of "The Sea of Grass," concerning Katharine Hepburn's crying scene:
MAYER. She cries too much.
KAZAN. But that is the scene, Mr. Mayer.
MAYER. But the channel of her tears is wrong.
KAZAN. What do you mean?
MAYER. The channel of her tears goes too close to her nostril, it looks like it's coming out of her nose like snot.
KAZAN. Jesus, I can't do anything with the channel of her tears.
MAYER. Young man: you have one thing to learn. We are in the business of making beautiful pictures of beautiful people and anybody who does not acknowledge that should not be in this business.
Lista do Nytimes: 100 Notable Books of the Year .
Estava tão sossegado e de repente agora mesmo ouço alguém gritar com uma voz gutural ou visceral e cheia de raiva. Abro a janela temporariamente fechada e dou de caras com um viking barbudo (óbvio) e mau muito mau a dizer para eu olhar e procurar para e na minha carteira. Para ver o que lá tenho. Olho espantado e fecho a janela. Sossego de novo. Primo play e voilá: Virginia Astley, From Gardens Where We Feel Secure. Ele agora está calado e de olhos esbugalhados. Gostava muito de ir à Noruega.
Correspondencia
por Friedrich Nietzsche
Antes de ser el pensador atrabiliario y genial que soñara al superhombre, Nietzsche fue un estudiante de 21 años dedicado a la filología que gastaba "más de lo que debía" y coqueteaba con dejarlo todo y dedicarse a la física. Al menos, es lo que él mismo escribía a sus amigos Erwin Rodhe y Hermann Mushacke. Perfiles inéditos que revela Correspondencia I [junio 1850 - abril 1869] (Trotta), que aparece íntegra al fin en España, en edición de Luis Enrique de Santiago, y de la que ofrecemos dos primeras cartas inéditas y otra sólo conocida en parte.
Friedrich Nietzsche: Wagner, tal y como lo conozco ahora, por su música, sus poesías, su estética, y no en menor grado por aquellos momentos felices que pasé con él, es la más evidente ilustración de lo que Schopenhauer llama un genio: no hay duda de que salta a la vista la semejanza en cada uno de sus rasgos. ¡Ah, cómo me gustaría contarte en una velada apacible todos aquellos pequeños detalles que sé sobre él, la mayoría de ellos a través de su hermana! Quisiera que pudiésemos leer juntos las poesías (que Romundt valora tan alto, el cual considera a R.W. con mucho el primer poeta de la generación, y sobre ellas también tenía muy buena opinión Schopenhauer, como Wagner me contaba), que pudiésemos seguir juntos el curso intrépido y ciertamente vertiginoso de su estética destructiva y constructiva, que pu diésemos finalmente dejarnos arrebatar por las vibraciones emotivas de su música, de ese mar de sonidos schopenhauerianos cuyas olas más secretas siento batir en mí, de tal manera que escuchar la música wagneriana es para mí una intuición exultante, más aún, un asombroso descubrimiento de mí mismo. Pero gozar de todo esto con un amigo como tú es para mí realmente una necesidad candente, de tal manera que pienso con ansia en el momento en que nos volvamos a encontrar. ¡Que no sea demasiado tarde! Con fiel amistad
tu
Friedrich Nietzsche
Já sei que vai longo mas está quase no fim: seis notas a respeito da crónica de Eduardo Cintra Torres, no Público de ontem:
Para além de Charlotte Brönte, Émile Zolla e de Mathieu Kassowitz, andam por aí, entre muitos outros, claro:
1) a Terra dos Mortos de George A. Romero. Quando vi este filme vi abandonar a sala pessoas que geralmente vão para o cinema de livro e lápis na mão. Sucumbiram ao primeiro jorrar de sangue e devem ter achado inaceitável. Siga;
2) Os Edukadores de Hans Weingartner, que termina com, sem adjectivos, Hallelujah de Leonard Cohen, por Jeff Buckley. Quem é Hardenberg? Não sejamos redutores na análise da sua personagem;
3) Cosmópolis, de Don DeLillo.
Ora, estas três notas empurram-nos para as quarta, quinta e sexta:
4) A Experiência de Ler, de C.S. Lewis. Não são só palavras nem somente imagens;
5) A Ideia de Europa, de George Steiner: mesmo, mesmo do final: "Pode ser que, de modos agora muito difíceis de discernir, a Europa venha a gerar uma revolução contra-industrial, assim como gerou a própria revolução industrial. Certos ideais de lazer, de privacidade, de individualismo anárquico, ideais quase apagados pelo consumo conspícuo e pelas uniformidades dos modelos americano e americano-asiático, poderão ter a sua função natural num contexto europeu, mesmo que esse contexto implique uma certa medida de apetrechamento material."
6) Bob Dylan, Blowin` in the Wind:
How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, `n´ how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, `n´ how many times must the cannon balls fly
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin`in the wind,
The answer is blowin` in the wind.
How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, `n´ how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, `n´ how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin`in the wind,
The answer is blowin`in the wind.
How many years can a mountain exist
Before it`s washed to the sea?
Yes, `n´ how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, `n´ how many times can a man turn his head,
Pretending he just doesn`t see?
The answer, my friend, is blowin` in the wind,
The answer is blowin` in the wind.
Roberto Carlos quer regressar ao Brasil. Diz que está cansado. Corre Roberto, corre. Ainda vais a tempo.
La historia de Genji
Irritante início, no mínimo: Este otoño es afortunado para los amantes de la literatura japonesa, que podrán admirar en castellano algunos de sus monumentos más excelsos. O bold é meu. Será que este homem não leu o prólogo de Harold Bloom? Será que não leu as trinta páginas de introdução? Ah, claro, é mais fácil dizer que "es un relato femenino considerado el Quijote de Japón" e dizer "La novela de Genji es el relato ficticio de los amores del príncipe Genji, un Don Juan [bold meu] lleno de tiernas delicadezas, una obra de fina introspección y sutil erotismo, una idealización del mundo refinado de la corte japonesa del siglo X, aunque la obra es escrita a principios del XI", do que dizer como Harold Bloom que "sin embargo, no debemos considerar a Genji un don Juan, aunque ciertamente manifieste lo que lord Byron llamaba «movilidad del afecto» e "Pero, Murasaki, al igual de Cervantes, al que se antecipa en más de quinientos años, posee una ironía afilada." É preciso fazer um desenho. É destas pequenas minudências (serão?) que não gosto (como sou eu que estou a escrevinhar isto -bela palavra, istmo- digo que sou eu que não gosto), e ainda bem que por cá há mais vergonha na cara.
O que vale é que logo a seguir Chantal Maillard escreve que La novela de Chenji é "Considerada como la primera novela moderna de la literatura universal". Sei que é muito fácil e cómodo e até outras coisas dizer isto, mas é a verdade: prefiro o que diz Harold Bloom. Não, não acho que seja patético dizer isto. E parece-me que pelo menos um destes dois autores faz ouvidos de mercador ao que Bloom (posso?) escreveu. Lá está: deve ser a rebeldia dos discípulos (mas já não devem ter idade para isso; e há idade para tal?), ou se calhar nem gostava de ser.
Também gostava de dizer alguma coisa sobre a fuga da corte para o Brasil em 1807, 29 de Novembro, mas já não vou a tempo.
Acabou.
Adenda: só hoje, 29 de Novembro, li este post do Vasco, da excelente BnO.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, novembro 28, 2005