sexta-feira, outubro 14, 2005
Reflexos nuns Olhos de Oiro (5)
"- O meu maior interesse estava nesse grande carvalho.
O soldado ouviu o comentário em silêncio. Não se lhe alterou a expressão.
- As instruções - prosseguiu o oficial, em voz alta - diziam respeito à limpeza do terreno mas só até aquela árvore. - Deu uns passos para lá e indicou os ramos cortados cerce. - Estes, que se arrastavam curvados, eram a coisa mais bonita que aqui tínhamos. Agora já não há remédio.
Todavia, o contratempo não justificava a agitação que Penderton começava a revelar. Ali de pé, com a floresta por fundo, parecia uma criatura deveras insignificante.
- O meu capitão deseja mais alguma coisa? - inquiriu o rapaz, depois de uma longa pausa.
A senhora Penderton soltou uma gargalhada e pôs um pé no chão para dar balanço à rede.
- O senhor capitão quer que você apanhe todos os ramos e os cole outra vez à árvore.
O marido não achou graça: - Ouve - disse ele ao soldado - vai buscar folhas e espalha-as no terreno de modo a cobrir os espaços vazios, onde ficou mais rapado. Depois podes ir-te embora. - Gratificou-o e retirou-se para dentro de casa."
Carson McCullers (trad. Cabral do Nascimento), Reflexos nuns Olhos de Oiro, Relógio D`Água, 1989.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 14, 2005