A montanha mágica

quarta-feira, setembro 14, 2005

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No US Open houve quatro grandes finais, pelo menos. Quais foram? Parece-me -lá está, hoje também- que todos, quem as viu, sabe quais foram. Pelo menos, repito, quatro. Blake vs Nadal; Agassi vs Blake; Federer vs Santoro. Agassi vs Federer. Nada de novo, portanto. C`est la vie. Venha o Masters.

Caro Eduardo Pitta: as Memórias de Raul Brandão, esse monumento nacional. Mas não creio, se me permite, que o país fosse diferente se todos os autores que refere tivessem escrito os seus diários. Não creio. Porquê? C.S. Lewis explica. E Unamuno também. Olhe um exemplo, e depois mais: "Jornalista - fabricante da opinião pública. Cada um afirma que a única genuína é a da sua lavra." Como vê. Outra: "Se os homens de mais juízo pensarem a sério em muitos dos seus actos, hão-de reconhecer que não têm juízo nenhum." Mais: "Porque é que toda a gente reclama dos outros aquilo de que são incapazes?"
Outra: "Dezembro - 1903
O Adrião de Seixas, secretário do Banco de Portugal:
- Não se fazem descontos porque não há dinheiro e o Banco já recorreu às reservas de prata. O Governo está sempre a pedir dinheiro. Imagine o meu amigo que todos os anos há um défice de 7000 contos. Ninguém tem a coragem de dizer as coisas como elas são e por isso se faz um orçamento falsificado. Resultado: como o orçamento é falso pode-se roubar à vontade!"
Mais: "Máxima de Urbano de Castro: Os homens públicos são como os papéis de crédito - o que hoje tem uma alta cotação amanhã não vale, e inversamente."
Outra: "Conta (Rafael Bordalo Pinheiro em casa de Columbano) que em Paris ouviu ao rei dizer:
- Isto aqui é uma terra, lá é uma piolheira."
Mais: "As filhas de D. Carlota Joaquina, com excepção de duas, eram tal qual como a mãe. O Câmara conta que a duquesa de Loulé, que foi casada com o mais lindo homem do seu tempo, estava um dia, em solteira, à janela, quando o Conde de Vimioso passou a cavalo para os touros, já vestido de oiro e prata. Ela chamou-o, trocaram meia dúzia de palavras, ele subiu - e depois desceu e foi tourear.
O Marquês de Valada sabia quem eram os pais de todos os filhos de D. Carlota Joaquina."
E o folheto: "Os Barbadões"? E termino as citações, todas do primeiro volume: "Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas."

Futebol: Será que o Benfica não pode ser, mais ou menos, como o Eusébio? Não aprendem nada com ele lá? Fazem mal, fazem mal. Já hoje, quarta-feira depois da vitória sobre o Lille: há jogadores que dentro do campo não passam bola a outros jogadores. Como será cá fora! E há jogadores que não querem correr, e não correm.

Já anda por aí esta piada: "O Benfica está tão mal, tão mal que até Tiago Monteiro tem mais pontos." A piada é injusta, para com Tiago.

Já agora: no Real Madrid o que se passa? Mistério? Não. Parece-me que ainda há-de ser pior.

Um dia destes vi um fantástico episódio dos Simpsons. Naquele em que troçavam dos X-Files. Fantástico. Estavam lá o Spock, o Alf e os agentes especiais Mulder and Scully, pelo menos. Por falar nos Simpsons: Thomas Pynchon voltou a participar num dos episódios. No episódio #337, "All`s Fair in Oven War." Já lá vão duas.

Aquando do sorteio dos grupos para a Liga dos Campeões não faltaram as análises -dos insignes comentadores- extremamente optimistas em relação ao futuro das equipas portuguesas nesta prova. Pergunta: será que não aprendem nada? Absolutamente nada, ao longo dos anos? Costumam apostar, passe a redundância, no betandwin? Decerto não. E fazem bem. Por tudo.

Por que é que a RTP não deu nenhum dos jogos do Open? Num dos intervalos, do mesmo, da tal final fiz zapping: a rtp1 exibia um programa onde estava a cantar o Marco Paulo e a assistência era mais do mesmo, num ambiente claustrofóbico, com aquele ar compungido e a fazer o esforço de ter um sorriso esboçado no rosto. Na Sic... Na 4 uma daquelas telenovelas, de causar pânico e medo. Quando regressei ao Eurosport suspirei de alívio. E depois dizem, dizemos, que o país é isto e aquilo e aqueloutro. Apetecia-me -agora, já- dizer um palavrão, mas não vou dizer. Que se fôda. Isto foi uma artimanha, clássica, já muito batida. E a diferença, a diferença de estar a ver aquela final ao ar livre!

Entretanto: o lagar ia enchendo, à noitinha estaria cheio. Quando o astro -é só para confundir- se ia deitar os vindimadores, cansados mas satisfeitos, desciam dos escadotes e preparavam-se para a etapa seguinte.
Tiravam as calças, vestiam os calções, mudavam de camisa, trazia-se um regador de água para lavar os pés e as pernas e os braços e entravam no lagar. Nós, os mais novos, não percebíamos por que é que só os homens pisavam. E então perguntámos: a resposta foi que só podia pisar quem tivesse pêlos nas pernas. E riam-se, de nós. Almejávamos o lagar. Depois começava um novo ritual, em que todos participavam. Violas, cavaquinhos, acordeões, ferrinhos, reque-reques, garrafas com talheres dentro, pandeiretas e toca a cantar e a dançar e a comer e a beber. Os que estavam dentro do lagar tocavam, os de fora, quase todos, dançavam. Claro.
Se os homens estavam estafados as mulheres ainda mais uma vez que trazer os cestos cheios até ao lagar, à cabeça, e percorrer todo aquele caminho... E depois ainda ajudar, ainda que houvesse mais mulheres a tratar disso, na cozinha a tratar do almoço, do lanche e do jantar. Mas revezavam-se, era assim que diziam.
Os mais pequenos ainda não tinham altura para pisar. Se me percebem. Mas quando passaram a ter e logo das primeiras vezes ficaram a saber que depois de se sair do lagar se ganha uma comichão tamanha nas pernas que... mas tinham de fazer de conta que não, não era nada. Os mais velhos riam-se.

Só para terminar: "1908 - O rei em Vila Viçosa caça, o João Franco em Carnide dorme com a casa cercada de polícia. Fala-se em conspirações, na tropa, em transferências de oficiais e sargentos. O Maximiliano de Azevedo disse hoje na livraria ao Bernardino Machado:
- Isto cheira a cadáver...
- Cheira a pólvora, é que é - respondeu-lhe ele.
Espera-se tudo: a falência, tiros, a revolta. Há prisões -fala-se em mais prisões ainda e os jornais estão garrotados."

O Rebordosa empatou com o Vila Meã. 1-1, no passado domingo.


posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, setembro 14, 2005

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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