terça-feira, agosto 02, 2005
"Fitando-o com sobrolho carregado lhe respondeu o astucioso Ulisses:
"Atrida, que palavra passou além da barreira dos teus dentes?
Desgraçado! Quem me dera que a outro vergonhoso exército
desses ordens e não nos regesses a nós, a quem Zeus
desde a juventude até à velhice incumbiu de atar os fios
de guerras difíceis, até que morra cada um de nós.
É assim que anseias por deixar para trás a cidade de ruas amplas
dos Troianos, por causa da qual nós sofremos muitos males?
Cala-te! Não vá outro dos Aqueus ouvir esta palavra,
que nenhum homem deveria ter deixado passar pela boca,
homem que no seu espírito soubesse dizer coisas acertadas
e fosse detentor de ceptro e a quem obedecessem hostes
como aquelas que tu reges entre os Argivos.
Mas agora desprezo a tua inteligência, por aquilo que disseste.
Tu que nos dizes, na presença da guerra e do combate,
para arrastarmos para o mar as naus bem construídas,
para que ainda mais os Troianos se alegrem e prevaleçam,
caindo sobre nós a morte escarpada. É que os Aqueus
não se manterão no combate uma vez arrastadas as naus ao mar,
mas desviarão o olhar e retirar-se-ao da batalha. Será então
a tua deliberação a nossa desgraça, ó condutor das hostes!"
HOMERO (trad. Frederico Lourenço), Ilíada, Livros Cotovia, 2005.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, agosto 02, 2005