sábado, agosto 13, 2005
Luz em Agosto (5)
"Os outros não tinham parado de trabalhar, e, no entanto, não havia um único homem no hangar que não estivesse outra vez a observar o forasteiro nas suas manchadas roupas citadinas, com o seu rosto sombrio e insuportável, e todo o seu ar de desprezo frio e tranquilo. O capataz olhou para ele, rapidamente, o seu olhar pasmado tão frio como o do outro.
- Ele vai trabalhar com aquelas roupas?
- Esse problema é dele - disse o administrador. - Não estou a contratar as roupas dele.
- Bem, vista ele o que vestir, para mim está bem, se para você e para ele também estiver bem -disse o capataz.- Tudo bem, senhor - disse ele. - Vá lá baixo, pegue numa pá e ajude aqueles colegas a remover a serradura.
O recém-chegado virou-se sem uma palavra. Os outros viram-no descer para a pilha de serradura, desaparecer e reaparecer com uma pá e começar a trabalhar. O capataz e o administrador estavam à porta conversando. Separaram-se, e o capataz regressou.
- O nome dele é Christmas - disse ele.
- O nome dele é quê? - disse um.
- Christmas.
- Ele é estrangeiro?
- Já ouviram alguma vez falar de um homem branco chamado Christmas?
- Nunca ouvi falar de ninguém com um nome desses - disse o outro.
E essa foi a primeira vez que Byron se lembra de ter pensado como é que o nome de um homem, que supostamente deve ser a exacta sonoridade de quem ele é, de algum modo, um augúrio daquilo que ele fará, se os outros homens fossem simplesmente capazes de interpretarem a tempo o seu significado. Pareceu-lhe que nenhum deles tinha olhado de um modo especial para o forasteiro, até terem ouvido o seu nome."
William Faulkner (trad. Jorge Telles de Menezes), Luz em Agosto, Diário de Notícias Bibliotex Editor, 2003.
posted by Luís Miguel Dias sábado, agosto 13, 2005