terça-feira, agosto 09, 2005
Luz em Agosto (3)
"Enquanto Armstid e Winterbottom estavam agachados contra a parede sombrosa do estábulo de Winterbottom, viram-na passar na estrada. Viram de imediato que ela era jovem, que estava grávida, e que era uma estranha.
- Gostaria de saber onde é que ela arranjou aquela barriga - disse Winterbottom.
- Gostaria de saber há quanto tempo é que ela anda a caminhar - disse Armstid.
- Eu acho que foi visitar alguém que mora no fundo da estrada - retorquiu Winterbottom.
- Eu não acho. Senão já teria ouvido falar nisso. E não é ninguém das minhas redondezas. Também teria ouvido falar.
- Eu acho que ela sabe para onde vai - disse Winterbottom. - O andar dela é o que diz.
- Ela há-de arranjar companhia antes de chegar muito mais longe - disse Armstid.
A mulher já tinha agora passado, lentamente, com o seu indisfarçável e proeminente fardo. Nenhum deles lançou um único olhar rápido na sua direcção, quando ela passou com uma vestimenta azul desmaiada, transportando um leque de palmeira e uma pequena trouxa de roupa.
- Ela não vem de nenhum sítio de perto - disse Armstid. - Ela tem o balanço de quem já anda nisto há algum tempo, e de quem tem ainda um bom bocado para palmilhar.
- Ela deve ter vindo visitar alguém aqui nas redondezas - disse Winterbottom.
- Acho que já teria ouvido falar disso - disse Armstid."
William Faulkner (trad. Jorge Telles de Menezes), Luz em Agosto, Diário de Notícias Bibliotex Editor, 2003.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, agosto 09, 2005