sábado, julho 02, 2005
"O que mais me fascina nesta "História Fabulosa" é aquele trecho em que Chamisso descreve como «o homem de cinzento» retira «a bela, belíssima sombra que se projecta a vossos pés, e que pareceis tratar com soberano desprezo...»
Faz soltá-la ligeiramente da relva, levanta-a da cabeça aos pés, vai enrolando para a dobrar e finalmente a meter na algibeira.
Quem sabe se inconscientemente as minhas sombras deitadas em lençóis (material «dócil») não tenham vindo, em parte, desta cena...
O que me atrai: a sombra não ocupar espaço e guardar a sua presença mesmo desligada do corpo que a projectou.
De várias edições escolhi a ilustração deste momento.
Já sonhei que eu era só sombra, mas nunca que ficaria sem ela! (estava a dormir e acordei; como era uma sombra recortada em plexiglas transparente conseguia olhar de lado a lado de mim e ver os quadrados azuis e brancos da almofada onde estava deitada. Paris 1966).
Lourdes Castro
Madeira X 2004"
in Adelbert Von Chamisso ("Tradução e Ensaio de João Barrento. Escolha de imagens de Lourdes Castro") A História Fabulosa de Peter Schlemihl, Assírio &Alvim, 2005.
posted by Luís Miguel Dias sábado, julho 02, 2005