segunda-feira, julho 11, 2005
é como um grande ventoPina Bausch
"Gostaria de fazer uma pergunta delicada, quase pessoal, pedindo a Pina Bausch que nos dissesse se sente por vezes a necessidade de esquecer que é bailarina e de viver simplesmente enquanto mulher. Gostaria igualmente de saber que outras disciplinas artísticas praticou e lhe serviram de referências ao longo da sua vida.
BAUSCH: Claro, há momentos de cansaço ou de tristeza, e eu gostaria então de estar noutro sítio e de descansar, de me distrair, de conseguir alguma distância em relação ao que estou a fazer. É muito natural que eu o sinta, mas se realmente o fizesse, ficaria sem dúvida infeliz por deixar de poder exprimir-me. Não sei nada de astrologia, mas houve alguém que me disse que pertenço a um signo de fogo; ora, o fogo tem de arder e queimar, o fogo não pode apagar-se. Quanto à segunda pergunta, é difícil responder-lhe. Há tantas coisas tão diferentes que nos influenciam... Até mesmo os cheiros, as coisas que não vimos, os vários mestres, os países... Tudo isso foi digerido e sofreu transformações metabólicas, de tal maneira que é difícil para mim distinguir cada uma das partes do conjunto; é como um grande vento. Podia falar de pessoas excepcionais. O que um ser humano pode fazer é incrível, e o mais importante é o que se faz todos os dias ; cada momento é diferente de cada um dos outros."
Pina Bausch (trad. Miguel Serras Pereira), Falem-me de amor, Fenda, 2005.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, julho 11, 2005