A montanha mágica

segunda-feira, junho 06, 2005

Tom Jones








"Introdução à Obra ou Ementa do Festim


Um autor não se deve considerar como um cavalheiro que oferece uma recepção particular ou caritativa, mas antes como um homem que explora uma casa de pasto onde as pessoas pagam para comer. No primeiro caso, é bem sabido que o anfitrião fornece a comida que lhe apetece; e por mais insípida, ou até desagradável, que a ementa possa ser para os convidados, estes não lhe devem pôr defeitos; antes pelo contrário, a boa educação ordena que elogiem tudo quanto lhes servem. Ora não é isso que sucede ao dono de um restaurante. As pessoas que pagam para comer insistirão em satisfazer os seus paladares, por mais requintados ou esquisitos que sejam; e se não encontrarem tudo a seu gosto, terão o direito de censurar, de praguejar e de mandar para o Inferno o jantar, sem qualquer cerimónia.
Por conseguinte, para evitar desgostar os seus clientes, desapontando-os, é costume o dono do restaurante, honesto e bem intencionado, colocar à entrada da sua casa uma ementa que qualquer pessoa possa ler; e esclarecido assim dos pratos que lhe poderão ser servidos, o cliente pode ficar e banquetear-se com o que há, ou partir à procura de outra casa que sirva comida mais acomodada ao seu gosto.
Como não desdenhamos colher engenho ou sabedoria de quem quer que seja que esteja em condições de proporcionar-nos qualquer dessas coisas, decidimos imitar esses honestos fornecedores de alimentos, e afixaremos não só uma ementa geral para o nosso banquete, mas daremos do mesmo modo ao leitor listas para cada prato que irá sendo servido neste e nos subsequentes volumes.
Sendo assim, o prato que aqui confeccionámos é nem mais nem menos que a Natureza Humana. Nem temo que o meu sensível leitor, embora de requintadíssimo, se sobressalte, tergiverse ou se indigne porque nomeei apenas um artigo. A tartaruga, como o Vereador de Bristol, muito entendido em petiscos, sabe de longa experiência, além da saborosíssima parte gelatinosa, contém muitas espécies diferentes de alimento; tão-pouco pode o leitor erudito ignorar que sob a designação genérica de Natureza Humana se reúne uma tão prodigiosa variedade que mais depressa um cozinheiro poderá vir a confeccionar todas as várias espécies de comida animal e vegetal que existem no mundo, do que um autor será capaz de esgotar um tema tão vasto."



Henry Fielding (trad. Daniel Ausgusto Gonçalves), Tom Jones, Biblioteca Os grandes génios da literatura universal, 2004.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 06, 2005

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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