domingo, junho 05, 2005
The Canterbury Tales (2-18)
"Tinha com ele o filho, um belo Escudeiro,
Um amante, solteiro lascivo,
Com caracóis redondos perfeitos.
Tinha uns vinte anos, calculei.
[...]
Havia um Archeiro que o acompanhava,
Que outros criados não queria.
Esse Archeiro usava capa e capuz verde
E flechas de pavão brilhantes e afiadas,
Primorosamente embainhadas e suspensas do seu cinto,
Pois sabia usar o seu equipamento como um bom archeiro.
[...]
Havia também uma Freira, uma Prioresa.
O seu sorriso era modesto e recatado;
A sua maior jura era «por Santo Eloy!»
[...]
Havia um Monge da mais fina linhagem,
Que percorria o país e caçar era o seu desporto.
Era um homem viril, capaz para ser Abade.
[...]
Havia um Frade, dissoluto e alegre.
Com uma área para mendigar, muito solene.
Nas Quatro Ordens não havia nenhum tão brando,
Tão galante era o tom e perfeito o discurso.
[...]
Havia um Mercador, de barba bifurcada
E trajes coloridos, que lá no alto do seu cavalo sentado,
Usava na cabeça um chapéu flamengo em pele de castor,
E nos pés belas botas de fivelas.
[...]
Havia um Estudante de Oxford,
Que há muito se tinha dedicado à lógica,
O seu cavalo era mais magro que um ancinho,
E ele próprio não era mais gordo.
[...]
Havia um Homem de Leis, prudente e sensato,
Que dava as suas consultas em São Paulo.
Era pessoa de notável excelência,
Discreto e respeitável,
Ou assim parecia, tais coisas sábias dizia.
[...]
Havia um Lavrador com ele, ao que parecia,
De barba branca como uma pétala de margarida.
Era um homem sanguíneo,
Que adorava sopas de vinho pela manhã,
Vivia para o prazer, e sempre assim o fizera,
Pois era o próprio filho de Epicuro,
Em cuja opinião, o prazer sensual
Era na vida a única verdadeira felicidade.
[...]
Um Capelista e um Carpiteiro,
Um Tecelão, um Tintureiro e um Tapeceiro
Estavam entre nós, elegantes,
Com solene e grande fraternidade,
Eram tão belos e frescos os seus trajes.
[...]
Traziam com eles um Cozinheiro para a ocasião,
Para lhes cozer uma galinha com tutano,
Bem temperada e com especiarias.
[...]
Havia um marinheiro vindo do ocidente,
De Dartmouth, pelo que percebi.
Cavalgava o melhor que podia,
Com uma capa de lã que lhe chegava aos joelhos.
[...]
Connosco estava também um Físico;
No mundo não existia ninguém como ele,
Ao falar em questões de medicina e cirurgia,
Pois sendo letrado em astronomia,
Só tratava os seus doentes nas horas
Em que, segundo o seu horóscopo, os poderes
Dos planetas favoráveis, em ascendência,
Sobre as imagens influência exerciam.
[...]
Connosco uma digna Mulher de Bath
Estava também, um pouco surda, o que era pena.
Mostrava tal aptidão para a tecelagem,
Que os seus tecidos superavam os de Ypres e Ghent.
[...]
Havia um Pároco pobre de uma cidade,
Homem santo e de grande reputação.
Contudo, era rico em pensamentos e em obras
Era um homem letrado, um erudito,
Que conhecia verdadeiramente o Evangelho e o pregava
Devotamente aos paroquianos, e o ensinava.
[...]
Vinha com ele um camponês, o seu irmão;
Muitas cargas de estrume carregara
Pela madrugada dentro.
[...]
Havia também um Feitor e um Moleiro,
Um Ecónomo dos Colégios da Lei,
Um vendedor de Indulgências, e na sua companhia
Um Beleguim do Santo Ofício a trote
E finalmente eu próprio, assim era o grupo."
Geoffrey Chaucer (trad. Linguagest), Contos de Cantuária, Biblioteca Os grandes génios da literatura universal, 2004.
posted by Luís Miguel Dias domingo, junho 05, 2005