sábado, junho 04, 2005
The Canterbury Tales (1)
"Havia um Cavaleiro, um homem distintíssimo,
Que desde o dia em que partira
Para correr o mundo, sempre seguira o cavalheirismo,
A verdade e a honra, a generosidade e a cortesia,
Nobremente lutara ao serviço do seu soberano,
Avançando para a batalha como nenhum outro,
Tanto em terras cristãs como pagãs,
E fora sempre respeitado pelos seus nobres feitos.
Quando tomámos Alexandria* ele estava lá.
À mesa costumava sentar-se no lugar de honra,
Sobre todas as nações, quando na Prússia**.
Combatera na Lituânia e na Rússia
Como nenhum outro cristão da sua linhagem.
Em Granada estivera, aquando do cerco
A Algecira, e assaltara Belmarie***.
Em Leyes esteve também e em Satalie,
Quando foram conquistados, e pelo Grande Mar
Com muitas nobres armadas tinha embarcado.
Em quinze batalhas mortais tinha participado,
E pela nossa fé em Tramissene lutara;
Em três torneios, três homens abatera.
Este mesmo distinto cavaleiro,
Uma vez ao rei de Palatie servira
Na luta contra um pagão da Turquia;
Em toda a parte era grandemente estimado.
E embora tão distinto, era sensato
E tão modesto nas maneiras como uma donzela.
Nunca uma palavra rude pronunciara
Em toda a sua vida, fosse pelo que fosse.
Era na verdade um perfeito gentil-homem.
No que se refere à sua equipagem, possuía
Um bom cavalo, mas não trajava alegremente,
Usava um justilho de fustão, manchado e escuro,
Com marcas nos pontos onde roçava a armadura.
Recém-chegado da guerra, logo se juntou a nós,
Para peregrinação fazer e ao santo agradecer.
*Alexandria, no Egipto, tomada e imediatamente abandonada por Pierre Lusignan, Rei de Chipre, em 1365. Treze anos antes, o mesmo Príncipe tinha tomado Satalie, a antiga Atalia, na Anatólia, e em 1367 tinha conquistado Layas, na Arménia, ambas citadas mais abaixo.
**O cavaleiro tinha sido colocadoà cabeceira da mesa, sobre cavaleiros de todas as nações, na Prússia, para onde guerreiros de todos os países estavam acostumados a ir a fim de se restabelecerem, e ajudarem as Ordens Teutónicas nos seus conflitos contínuos com os vizinhos pagãos na Lituânia, Rússia, etc.
***Algecira foi tomada ao Rei mouro de Granada em 1244: os Condes de Derby e Salisbury tomaram parte no cerco. Supõe-se que Belmarie tenha sido um estado mouro em África: mas «Palmyrie» tem sido sugerida como a correcta leitura. O grande Mar ou o Mar Grego é o Mediterrâneo Oriental. Tramissene, ou Tremessen, é referida por Froissart como um dos reinos mouros de África. Palatie, ou Palathia, na Anatólia era um feudo tomado pelos cavaleiros cristãos após as conquistas Turcas - os possuidores pagando tributos aos infiéis. Este Cavaleiro tinha lutado ao lado de um destes senhores contra um vizinho pagão."
Geoffrey Chaucer (trad. Linguagest), Contos de Cantuária, Biblioteca Os grandes génios da literatura universal, 2004.
posted by Luís Miguel Dias sábado, junho 04, 2005