domingo, maio 08, 2005
Friedrich von Schiller e Thomas Mann
2005 é o ano em que passam 200 anos da morte do primeiro e 50 do segundo. Schiller morreu a 9 de Maio (creio) de 1805. Thomas Mann a 12 de Agosto de 1955.
Conheço melhor a obra de Mann que a de Schiller. Sobre a obra de Mann dizer apenas que cada dia que passa me deslumbra mais. E quando me dei conta que ele escreveu Os Buddenbrook com apenas 26 anos ainda mais deslumbrado fiquei. 26 anos. 26. É pena que em Portugal a sua obra não esteja a ser alvo de novas traduções e edições. Um destes dias, por acaso, encontrei um livro em que estavam reunidos três ensaios e dois textos de duas conferências dadas por Thomas Mann. Claro, estou deslumbrado. O título desses ensaios e conferências? Schopenhauer, Nietzsche e Freud. Mais concretamente:
1) Schopenhauer
2) Preludio hablado a un homenaje musical a Nietzsche
3) La filosofia de Nietzsche a la luz de nuestra experiencia
4) El puesto de Freud en la historia del espíritu moderno
5) Freud y el porvenir
Disse que estava deslumbrado, não disse? Um dia destes coloco/publico aqui três ou quatro notas sobre cada ponto. O livro data de 1986 e foi publicado pela Plaza & Janes Editores, na colecção dedicada às Biografias.
Agora o primeiro a partir do segundo, por Tonio Kröger, o da «náusea do conhecimento»:
«"Li algo de maravilhoso, algo de extraordinário..." dizia ele. Caminhavam e comiam em conjunto de um cartucho de rebuçados de fruta que tinham comprado ao merceeiro Iwersen na Mühlenstrasse por dez pfennige. "Tens que o ler, Hans, é o Don Carlos, do Schiller... empresto-to, se quiseres..."
"Não, Tonio, deixa lá, isso não é para mim. Eu fico pelos meus livros de cavalos, sabes. Têm imagens fantásticas, digo-te! A próxima vez que estiveres em minha casa mostro-tos. São fotografias instantâneas e vêem-se os cavalos a trote, a galope e a saltar e em todas as posições que na realidade nunca se conseguem ver por ser tudo demasiado rápido..."
"Em todas as posições?" perguntava amável Tonio. "Sim, deve ser óptimo. Mas quanto ao Don Carlos, ultrapassa todos os limites. Há trechos, verás, que são tão bonitos que nos dão arrepios, como se qualquer coisa estalasse..."
"Estala?" perguntava Hans Hansen... "Como?"
"Por exemplo, a cena em que o rei chorou porque foi enganado pelo marquês... mas o marquês enganou-o apenas por amor ao príncipe, percebes, por quem ele se sacrifica. E então a notícia de que o rei chorou vem do gabinete para a antecâmara. ´Chorou?` ´O rei chorou?` Todos os cortesãos estão horrivelmente chocados e cada um deles pensa para si como este rei é terrivelmente duro e severo. Mas percebe-se tão bem que o rei tenha chorado e ele faz-me mais pena do que o marquês e o príncipe juntos. Ele está sempre muito sozinho e sem amor e quando pensa ter encontrado alguém, esse alguém trai-o..."»
Termino com uma citação de Schiller: "O sentimento do sublime é um sentimento misto. É composto por um estado dorido, que no seu grau supremo se exprime como um arrepio, e por um estado alegre, que pode intensificar-se até ao encantamento e que, embora não seja propriamente prazer, é de longe preferido ao prazer por almas dedicadas." Citação retirada dos Textos sobre o belo, o trágico e o sublime editado pela Imprensa nacional em 1997.
Já agora, para quem estiver interessado, na net temos disponíveis, gratuitamente, acesso a algumas obras de teatro escritas por Schiller:
Intriga y amor e La muerte de Wallenstein
Guillermo Tell, La Doncella de Orleans e Maria Estuardo
Bom domingo.
posted by Luís Miguel Dias domingo, maio 08, 2005