A montanha mágica

domingo, janeiro 23, 2005

A Construção de Jesus





Rubens, Pieter Paul, Feast in the House of Simon the Pharisee, Between 1618 and 1620.



"O Evangelho surge apostado em fornecer, desde o princípio, ao leitor, seja pela secção da infância (Lc 1,5-2,52), seja pela reiterada intervenção de personagens meta-terrenos (anjos, demónios, a voz do céu), a identidade de Jesus, dotando-o de uma competência gnósica que falta aos personagens da história. Estes procuram desvendar o segredo de Jesus, formulam hipóteses diversas, vigiam e espantam-se com os sinais, tentam construir, com as diversas informações trazidas pelos espisódios, o puzzle da revelação. Por vezes a verdade assoma, mas é logo silenciada, para que triunfe uma atmosfera enigmática, interrogativa, desconcertante, em que a revelação vai crescendo até se resolver nos acontecimentos da Páscoa de Jesus. Os personagens da história estão diante do protagonista como no dito de Is 6,9, que Jesus a dada altura reproduz: vêem sem ver e ouvem sem entender. Isto é uma fonte extraordinária de mal-entendidos e ambiguidades que fornece um enorme poder de sedução à narrativa. Ela balança-se entre o dito e o não-dito, entre o mostrado e o escondido, entre o oculto e o revelado. Daí também o papel que a ironia desempenha no terceiro Evangelho, como justamente tem sido referido*.
Em 7,36-50, o personagem Jesus é verdadeiramente o centro da narrativa, uma espécie de íman que faz confluir em si todos os eixos factuais. Se os outros dois personagens, o fariseu e a mulher, alternam um tempo de exposição com um tempo de sombra (nos vv.37-38 a mulher está exposta e o fariseu está na sombra; nos vv.40-42 está ausente a mulher e o fariseu presente), Jesus, directa ou indirectamente, atravessa todos os momentos do episódio. A sua entrada em casa do fariseu assinala o início da acção. Ele é o motivo declarado da vinda inusitada da mulher pecadora àquele lugar e é o alvo exclusivo da acção que ela desempenha. A sua passividade provoca o fariseu, que discorre não sobre a mulher, mas sobre a identidade do seu convidado. Jesus é um personagem omnisciente. Para os outros personagens as informações chegam-nos através do narrador. Jesus, porém, inaugura o discurso directo e responde em alta voz ao que os outros personagens calam.


*Cf. R. TANNEHILL, The Narrative Unity, 143-156; J. Ray, Narrative Irony in Luke-Acts, 26-27."


in José Tolentino Mendonça, A Construção de Jesus, Assírio & Alvim, 2004, pp. 89-90.


[a Refeição em Casa de Simão o Fariseu, de Rubens, também se encontra no mesmo, não na capa mas na página 4]

posted by Luís Miguel Dias domingo, janeiro 23, 2005

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