sábado, dezembro 11, 2004
Portugal, país de suicidas
António Soares dos Reis, Desterrado, Mármore de Carrara, Roma 1872.
"«Fué Laranjeira quien me enseñó a ver el alma trágica de Portugal, no diré de todo Portugal, pero sí del más hondo, del más grande. Y me enseñó a ver no pocos rincones de los abismos tenebrosos del alma humana. Era un espíritu sediento de luz, de verdad y de justicia. Le mató la vida. Y al matarse, dió vida a la muerte.» Unamuno.
«O pessimismo suïcida de Antero de Quental, de Soares dos Reis, de Camilo, mesmo do próprio Alexandre Herculano (que se suïcidou pelo isolamento como os monges) não são flores negras e artificiais de decadentismo literário. Essas estranhas figuras de trágica desesperação irrompem espontâneamente, como árvores envenenadas, do seio da Terra Portuguesa. São nossas: são portuguesas: pagaram por todos: expiaram a desgraça de todos nós. Dir-se-ia que foi tôda uma raça que se suïcidou.
Em Portugal chegou-se a êste princípio de filosofia desesperada - o suïcidio é um recurso nobre, é uma espécie de redenção moral. Neste mal-fadado país, tudo o que é nobre suïcida-se; tudo o que é canalha triunfa.
Chega a isto, amigo. Eis a nossa desgraça. Desgraça de todos nós, porque todos a sentimos pesar sôbre o nosso espírito, sôbre a nossa alma desolada e triste, como uma atmosfera de pesadelo, depressiva e má. O nosso mal é uma espécie de cansaço moral, de tédio moral, o cansaço e o tédio de todos os que se fartaram - de crer.
Crer...! Em Portugal, a única crença ainda digna de respeito é a crença - na morte libertadora.
É horrível, mas é assim.
[...]
Diz V. que tudo aquilo que se tem passado e se está passando em Portugal é o desarollo [sic] duma espécie de tumor social.
Será, será. Será a morte até.
Há quem diga que o tumor é apenas um abcesso que, depois de supurar, nos permitirá viver ainda largos dias de desafôgo e bem-estar. (Ainda há também optimistas em Portugal.)
Eu, por mim, não sei, não sei: em boa verdade, amigo, não sei para onde vamos. Sei que vamos mal. Para onde? Para onde nos levarem os maus ventos do destino. Para onde? Vamos...» carta de Manuel Laranjeira a Unamuno."
in J.M. de Barros Dias, Miguel de Unamuno e Teixeira de Pascoaes Compromissos Plenos para a Educação dos Povos Peninsulares, Vol. I, INCM, 2002, pp. 261 e 275.
posted by Luís Miguel Dias sábado, dezembro 11, 2004