segunda-feira, novembro 01, 2004
The Wind (10)
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Edvard Munch, The Storm, 1893.
O Vento (1928)
Miguel de Castro Henriques (cont.)
"Entretanto o baile pára porque vem aí um ciclone. Aquilo a que se chama a Escola Sueca dava voz e corpo às forças naturais - o drama humano cruza-se com elas, é por elas interrogado e julgado. Assim se passa aqui. O ciclone é mais um personagem, mais uma das figuras possíveis do vento. E surge como um furioso traço negro turbilhonante que faz comunicar a terra com o céu.
Entretanto os participantes do baile entram em pânico. Griffith e Einsenstein que eram magistrais a filmar multidões em movimento reconheceriam aqui outro mestre nesse capítulo. Se a escadaria do Couraçado Potemkin é um ponto culminante que denota o que o cinema tem de diferente de todas as artes, comprimir o tempo e chegar ao estilo da luz, aqui a escada que leva à cave, e por onde se precipitam as pessoas em fuga do ciclone é outro grande momento de cinema. Sjöström consegue filmar uma massa de pessoas a fugir em pânico conseguindo individualizar cada uma delas. O pânico é ao mesmo individual e colectivo, paradoxalmente aglomera e isola as pessoas. A descida pânica desta escadaria em que O Sedutor aterrado mas mantendo o papel de protector vai descendo abraçado a Letty, e de protector passa a protegido, é um momento notável no tratamento da multidão considerada como personagem.
Depois o Ciclone passa (a sua aproximação evoca fortemente a atmosfera carregada de tensões dos quadros de Munch), a vida humana achatada e redicularizada pelo excesso e pela força renasce. O baile recomeça. Never play ragtime too fast. Por momentos o cinema sonoro parece uma inconveniência."
in O Olhar de Ulisses - O som e a Fúria (2000), Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, novembro 01, 2004
