domingo, outubro 17, 2004
The Wind (5)
Sobre Victor Sjöström
João Bénard da Costa
"Em1925, Victor Sjöström tinha no activo 43 filmes, como realizador e actor, (início da carreira cinematográfica em 1912) que o tornaram no "pai fundador" ou "alma mater" do cinema sueco, com obras primas tão célebres como Terje Vigen (1916), Os Proscritos (1917) ou A Carroça Fantasma (1920).
Em 1958, depois dos dez anos fabulosos filmes que fez em Hollywood entre 1925 e 1928, tudo que restava era a memória de um mito que se despedira do cinema (realização) em 1936, quando filmou em Londres Under the Red Robe. Foi esse mito que Bergman ressuscitou nos Morangos Silvestres.
Como Bergman, Sjöstrm vinha dos palcos (fora actor e encenador teatral entre 1910 e 1912). Como Bergman, regressou aos palcos depois de acabada a carreira de cineasta. E, em 1943, a Svensk chamou-o para director artístico, confiando na sua capacidade para renovar o cinema sueco e descobrir novos talentos, cargo que conservou até 1949, aos 70 anos. Foi na Svensk, em 1944, que Bergman conheceu Sjöström, cujos filmes já eram então uma das suas paixões. Deu-lhe a ler o argumento de Hets (Tormenta) e foi graças a Sjöstrom que esse filme foi feito, com realização de Alf Sjörberg. De certo modo, Bergman entrou no cinema pela mão de Sjöström.
Numa conferência de 46, intitulada "O Suicídio Artístico do Cinema", Bergman reclamou a herança dele, como as de Méliès e Chaplin, para o cinema que queria fazer. Nesse mesmo ano, Victor Sjöstrom figurava como "Conselheiro Artístico" no genérico do primeiro filme realizado por Bergman: Kris.
Quatro anos depois - em 1950 - Bergman chamou-o para o magnífico papel do velho maestro Sönderby no Rumo à Felicidade.
Mas a maior das homenagens de Bergman a Sjöström é, sem dúvida, Morangos Silvestres, quando o chamou para fazer de Professor Isak Borg. Na Dinamarca, Dreyer escreveu que era "um magnífico crepúsculo para o grande homem do cinema sueco". E Sjöstrom morreu, três anos depois, aos 81 anos. Na homenagem que a Academia Sueca lhe consagrou pouco depois, disse Bergman: "Os Morangos Silvestres terminam com um close-up de Isak Borg na hora da compreensão e da reconciliação. Nesse close-up, o rosto de Sjöström brilhava com uma claridade quase mística como que reflectindo uma outra realidade e uma outra luz. Os seus olhos estavam muito abertos, sorrindo com ternura. Era maravilhoso. Nunca vi uma expressão tão nobre, tão perfeitamente liberta de qualquer inquietação".
Julgo que são as mais belas palavras sobre esse último plano e o final do filme, despedida da vida e do cinema de um dos maiores criadores."
in O Olhar de Ulisses - O som e a Fúria (2000), Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura.
posted by Luís Miguel Dias domingo, outubro 17, 2004