sábado, outubro 23, 2004
Saber exactamente o que este som (ou esta imagem) fazem aqui.
Gary Hill, Withershins .
"O CINEMA SONORO INVENTOU O SILÊNCIO
Silêncio absoluto e silêncio obtido pelo pianismo dos ruídos.
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VISTA E OUVIDO
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O que é para o olhar não deve ser redundante com o que é para o ouvido.
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Se o olho é inteiramente conquistado, não dar nada ou quase nada ao ouvido*. Não se pode ser ao mesmo tempo todo olhar e todo ouvidos.(* E inversamente, se a orelha está inteiramente conquistada, não dar nada aos olhos.)
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Quando um som pode substituir uma imagem, suprimir ou neutralizar a imagem. O ouvido dirige-se sobretudo para o interior, e o olhar para o exterior.
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Um som não deve nunca vir em auxílio de uma imagem, nem uma imagem em auxílio de um som.
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Se um som é o complemento obrigatório de uma imagem, dar preponderância quer ao som, quer à imagem. Em situação de igualdade, eles brigam ou anulam-se, como se diz das cores.
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Uma imagem e um som não devem auxiliar-se, mas trabalhar cada um por sua vez como se fossem estafetas.
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Quando apenas o olho é solicitado, o ouvido fica impaciente; quando apenas o ouvido é solicitado, o olho fica impaciente. Utilizar essas impaciências. Poder do cinematógrafo que se dirige a dois sentidos de forma regulável.
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À táctica da velocidade, do barulho, opor as tácticas da lentidão, do silêncio."
Robert Bresson (trad. Pedro Mexia), Notas Sobre o Cinematógrafo, Porto, Elementos Sudoeste, 2003.
posted by Luís Miguel Dias sábado, outubro 23, 2004