quinta-feira, setembro 02, 2004
Moby Dick (4) - Acab -
Robert Wilson, Prometheus.
"- Escuta-me outra vez. Tenho de ir ainda mais fundo. Todas as coisas visíveis, Starbuck, são apenas de máscaras de papelão. Mas em cada acontecimento, no acto vivo, por detrás do facto indubitável, há algo de descohecido mas dotado de razão, que exibe, sob a máscara destituída de razão, feições próprias. Como pode o prisioneiro evadir-se sem furar a muralha? Para mim, a Baleia Branca é a muralha que me cerca. Por vezes penso que nada existe para além dela. Mas basta! Ela atormenta-me, oprime-me; vejo nela uma força atroz, uma perversidade inescrutável. É essa coisa inescrutável que eu odeio; e, quer a Baleia Branca seja um simples instrumento, quer seja um princípio, tenho de cevar nela o meu ódio. Não me fales de blasfémia, homem; eu atacaria o próprio Sol, se ele me insultasse. Com efeito, se o Sol puder fazer isso, eu também posso ripostar, visto que há sempre aqui uma espécie de jogo limpo e o ciúme preside a todas as criações. Mas nem mesmo a esse jogo limpo me submeto. Quem está acima de mim? A verdade não tem limites. Afasta os teus olhos! Mais intolerável que o olhar furioso de um inimigo é ainda o olhar fixo de um idiota!"
Herman Melville (trad. Joaquim L. Duarte Peixoto), Moby Dick.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, setembro 02, 2004