domingo, julho 18, 2004
De onde e como aqui neste blogue se fala pela primeira vez e explicitamente sobre política.
"Como a missão de ficar de vigia no tope de um mastro, quer em terra, quer no mar, constitui um serviço antigo e interessante, vamos demorar-nos um pouco a falar dele. Estou em crer que os amigos egípcios foram os primeiros vigias da gávea, tanto mais que no decurso das minhas pesquisas não lhes encontrei antecessores. Os seus antepassados, os construtores de Babel, tiveram sem dúvida a ambição de erguer o maior mastro da África e da Ásia com a sua torre; todavia, antes de terminada a plataforma final, o grande mastro de pedra foi lançado pela borda na grande tempestade da cólera de Deus; não podemos, por conseguinte, dar prioridade aos construtores de Babel. E a asserção de os egípcios terem sido uma nação de vigias da gávea baseio-me na opinião geral dos arqueólogos de que as primeiras pirâmides foram construídas com fins astronómicos. Esta teoria é singularmente apoiada pelo facto de as paredes exteriores terem a forma de escadarias, que os velhos astrónomos trepavam com prodigiosas passadas a fim de anunciarem a aparição de novas estrelas, tal como nos nossos dias os vigias de um navio assinalam a presença de uma vela ou de uma baleia. Em São Simeão, o famoso estilita da antiguidade que construiu um obelisco de pedra no deserto em cujo topo passou a última parte da sua vida, içando os alimentos por meio de uma polé, temos o notável exemplo de um intrépido gajeiro: nem o nevoeiro, nem a chuva, nem a geada, nem o graniza foram capazes de expulsá-lo dali; corajosamente, enfrentou todas as intempéries até ao fim e morreu, literalmente, no seu posto. Hoje em dia só temos nos nossos mastros de vigias inertes: homens de pedra, de ferro e de bronze, que, embora capazes de enfrentar um furacão, se mostram absolutamente incapazes de anunciar uma descoberta insólita."
Herman Melville, "Moby Dick".
posted by Luís Miguel Dias domingo, julho 18, 2004