A montanha mágica

quinta-feira, abril 15, 2004

"VIAGEM A ITÁLIA" pela mão de Goethe e do Google 10


"Veneza, 9 de Outubro de 1786

Hoje á tardinha subi à torre de S. Marcos; como tinha visto recentemente lá de cima as lagunas em todo o seu esplendor na altura da maré cheia, queria vê-las também na sua hora mais modesta, com a maré vazia; é preciso juntar estas duas imagens se quisermos conhecer bem esta realidade. É estranho ver aparecer por todo o lado terra onde antes havia manchas mais altas edificadas de um grande pântano cinzento-esverdeado, atravessado por belos canais. A parte pantanosa está coberta de plantas marítimas, e isso fará com que pouco e pouco se eleve, embora as marés constantemente as resolvam e arranquem, não dando tréguas a esta vegetação.
Volto com a minha narrativa ao mar, onde hoje vi com muito gosto o mercado dos búzios, moluscos e caranguejos. Que preciosas e magníficas são todas as coisas vivas! Como se ajustam à sua condição, como são verdadeiras, realmente existentes! Agora vejo como me é útil o pouco que estudei das coisas da natureza, e alegro-me em poder continuá-lo! Mas não quero entusiasmar os meus amigos com meras exclamações, até porque estas coisas podem ser descritas e comunicadas.
Os paredões construídos do lado do mar apresentam primeiro alguns degraus altos, depois vem um leve plano inclinado, a que se segue novo degrau, nova superfície inclinada e em seguida uma parede íngreme com uma cabeça saliente no topo. Por estes degraus e rampas sobe o mar na maré alta, até rebentar e espumejar em cima, na parede e no seu rebordo saliente. Com o mar vêm os seus habitantes, pequenos búzios e comestíveis, moluscos univalves (patelle) e tudo o que se mexe, em especial os caranguejos. mas mal estes animais se instalaram no paredão liso, e já o mar, tal como tinha subido, desce novamente, ondulante e suave. A princípio todo aquele formigar vivo não sabe bem onde está e espera pelo regresso das ondas salgadas; mas estas não voltam, o sol queima-se e seca-os depressa,e então começa a retirada. Nesta altura os caranguejos procuram as suas presas. Não se pode imaginar como são estranhos e cómicos estes seres constituídos por um corpo redondo e duas tenazes compridas; as outras patas, como as das aranhas, nem se vêem. Como se tivessem andas, eles deslocam-se para todos os lados, e assim que uma lapa se move debaixo da sua casca, eles avançam e procuram enfiar a tenaz na estreita fresta entre a concha e a pedra, virar aquela e comer o molusco. A lapa continua o seu caminho, mas mal dá pela proximidade do inimigo agarra-se de novo à pedra. Aquele movimenta-se então à volta da pequena cobertura de forma curiosíssima, subtil e amacacada; mas falta-lhe a força para dominar o forte músculo do pequeno molusco, e a primeira continua calmamente o seu caminho. Não vi nenhum caranguejo conseguir os seus objectivos, embora tivesse observado durante horas a retirada desta bicharada, á medida que iam deslizando pelas duas rampas e pelas escadas até ao mar."


GOETHE (trad. João Barrento), "Viagem a Itália", Lisboa, Relógio D`Água Editores, 2001.

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, abril 15, 2004

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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