sexta-feira, abril 09, 2004
pynchon, pynchon...
"79) Muito mais oculto do que Gracq ou Salinger, o nova-iorquino Thomas Pynchon, escritor de quem apenas se sabe que nasceu em Long Island em 1937, formou-se em Literatura Inglesa na Universidade de Cornell em 1958 e trabalhou como redactor para a Boeing. A partir daí, nada de nada. E nem uma fotografia, ou melhor, uma, dos seus anos de escola na qual se vê um adolescente francamente feio que não tem forçosamente de ser Pynchon, e é uma mais do que provável cortina de fumo.
José Antonio Guerpegui conta um episódio que há anos lhe contou o seu saudoso amigo Peter Messent, professor de literatura norte-americana na Universidade de Nottingham. Messent fez a sua tese sobre Pynchon e, como é natural, ficou obcecado por conhecer o escritor que tanto estudara. Depois de vários contratempos, conseguiu uma breve entrevista em Nova York com o deslumbrante autor de “Leilão do Lote 49”. Os anos passaram e quando Messent já se tinha transformado no prestigiado professor Messent – autor de um grande livro sobre Hemingway – foi convidado, em Los Angeles, para uma reunião de íntimos com Pynchon. Para sua surpresa, o Pynchon de Los Angeles não era de maneira nenhuma a mesma pessoa que tinha entrevistado anos antes em Nova York, mas, tal como esse, conhcia perfeitamente os pormenores mais insignificantes da sua obra. Ao terminar a reunião, Messent atreveu-se a expor a duplicidade dos personagens, ao que Pynchon, ou fosse quem fosse, respondeu sem a menor perturbação:
- Então você terá de decidir qual é o verdadeiro."
VILA-MATAS, Henrique (trad. José Agostinho Baptista), "Bartleby & Companhia", Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, p.p. 186 e 187.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, abril 09, 2004