quarta-feira, março 24, 2004
Javier Vallhonrat, Vuelvo a tí.
"E agora? O ritmo fugiu-lhe, cessou e depois recomeçou a mover-se e a palpitar. E agora? Fumo, incenso que ascendia do altar do mundo.
Da chama se ergue o fumo do incenso
Cobrindo terras e mares inconfinados
Não me recordes mais os dias encantados.
Subia aos céus o fumo do mundo inteiro, dos oceanos vaporosos, o incenso dos louvores dela. A terra era um imenso turíbulo oscilante, balançando-se, uma esfera de incenso, uma esfera elipsoidal. O ritmo fugiu-lhe subitamente; o grito do seu coração quebrara-se. Os seus lábios começaram a repetir os primeiros versos, vezes sem conta; depois começaram a propeçar em meios versos, hesitantes e frustrados; finalmente, pararam. O grito do seu coração quebrara-se.
A hora velada em que o vento não sopra tinha passado e a claridade matinal começava já a surgir por trás das vidraças nuas da janela. Um sino tocou, muito longe. Ouviu-se o gorgeio de uma ave; duas aves, três. O sino e a ave calaram-se; e a frouxa claridade branca espalhou-se de oriente para ocidente, cobrindo o mundo, cobrindo a luz rósea dentro do seu coração."
James Joyce, "Retrato do Artista Quando Jovem".
Javier Vallhonrat, Vuelvo a tí.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, março 24, 2004