domingo, janeiro 18, 2004
"VIAGEM A ITÁLIA" pela mão de Goethe e do Google 6
De Verona a Veneza
Verona, 16 de Setembro [1786]
"Quando hoje saía de novo da arena deparei, a uns milhares de passos daí, com um espectáculo público moderno. Quatro nobres de Verona jogavam a bola contra quatro de Vicenza. Jogam este jogo entre si todo o ano, umas duas horas antes do cair da noite; desta vez, como os adversários eram de fora, o povo acorreu em massa. Podiam ser uns quatro a cinco mil espectadores. Não vi mulheres, de condiçaõ feminina nenhuma.
Falei atrás, ao referir os desejos da multidão em casos destes, do anfiteatro natural e casual, que agora o povo formava à minha frente. Já à distância ouvia grandes aplausos, que acompanhavam cada uma das jogadas decisivas. Mas o jogo é jogado assim: a uma certa distância uma da outra erguem-se duas rampas de leve inclinação. O jogador que abre o jogo está no topo da rampa, com uma raqueta de madeira na mão direita. Quando um outro da sua equipa lhe lança a bola, ele desce ao seu encontro, intensificando assim a força com que bate a bola. Os adversários procuram batê-la de volta, e assim segue o jogo até a bola cair ao chão. Surgem durante o jogo as mais belas posições, dignas de ser eternizadas em mármore. Como os jogadores são todos rapazes bem constituídos e fortes, de traje branco curto, as equipas só se distinguem por uma marca de cor. É particularmente bela a posição em que fica o jogador que bate a bola quando desce a rampa e vai com o braço atrás para apanhá-la: é uma posição digna da do lutador da Villa Borghese.
Estranhei que eles fizessem estes exercícios junto a uma velha muralha da cidade, sem o mínimo de comodidades para os espectadores: por que razão os não fazem no anfiteatro, onde têm tão amplo e belo espaço?"
GOETHE (trad. João Barrento), "Viagem a Itália", Lisboa, Relógio D`Água Editores, 2001.
posted by Luís Miguel Dias domingo, janeiro 18, 2004