A montanha mágica

terça-feira, janeiro 13, 2004

Thomas Pynchon e os simpsons e J.D. Salinger, e "O Leilão do Lote 49" e lembrem-se don`t ever antagonize the horn e duas fotografias e um poema. duas!?!





Depois de realizadas as apresentações... e porque Thomas Pynchon é dificil de encontrar, para alguns, utilizamos as mesmas, as vossas, fotografias! Claro, com a devida vénia.



"Contudo, tinha acreditado nos carros. Excessivamente, talvez: e como poderia ter sido diferente, quando via dirigir-se-lhe toda aquela gente ainda mais pobre do que ele, pretos, mexicanos tesos, uma multidão sete dias por semana, trazendo para troca as carripanas mais inverosímeis: verdadeiros prolongamentos metálicos e motorizados deles próprios, das suas famílias, reflexo do que haviam sido as suas vidas, que eles punham a nu, ali, diante de um estranho como ele, para que as examinasse, chassis amolgados, cheios de ferrugem, guarda-lamas com cores que as tornavam invendáveis e para desencorajar Mucho, e o interior cheirando desesperadamente a crianças, a aguardente dos supermercados, duas e às vezes três gerações de fumadores de cigarros, ou simplesmente a pó – e, limpo o interior dos carros, era preciso examinar os resíduos destas vidas, e era impossível distinguir entre aquilo que tinha verdadeiramente sido rejeitado ( e a sua ideia é de que por medo se guardava o pouco que aparecia) e aquilo que muito simplesmente (talvez tragicamente) tinha sido perdido: talões agrafados oferecendo descontos de 5 a 10 cêntimos, bilhetes, propaganda de baixas de preços em supermercados, beatas, pentes desdentados, ofertas de empregos, páginas amarelas arrancadas de listas telefónicas, farrapos de roupa interior ou de vestidos fora de moda que serviam para desembaciar um pára-brisas para que se pudesse ver o que havia para ver, um filme, uma mulher ou um carro que se cobiçava, um chui que talvez o levasse dentro porque não tinha mais nada para fazer, ninharias todas elas envoltas invariavelmente, como uma salada de desespero, num condimento cinzento de cinzas, de gases concentrados de escapes, de poeira, de desperdícios humanos – ficava doente só de olhar, mas tinha de olhar. Se tivesse sido um negociante de sucata, talvez resistisse e possivelmente teria feito carreira: a violência causada por cada montão de destroços acontecia de quando em quando e longe dele para ter algo de miraculoso, tal como cada morte, até chegar a nossa, é miraculosa. Este ritual de trocas, semana após semana, nunca arrastava sangue ou violência, e Mucho, demasiado impressionável, não podia suporta-lo por muito tempo. Esta monotonia cinzenta tinha, até certo ponto, acabado por imunizá-lo, mas ele nunca conseguiu habituar-se à maneira como os proprietários, como sombras, vinham trocar uma versão amolgada e caótica deles próprios por uma outra igualmente sem futuro, projecção automóvel de outra existência. Como se fosse a coisa mais natural. Para Mucho era horrível. Um incesto estranho e eterno."


Pynchon, Thomas (trad. Manuela Garcia Marques), "O Leilão do Lote 49", Lisboa, Fragmentos, 1987, p.p. 12 e 13.

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, janeiro 13, 2004

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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