sexta-feira, janeiro 30, 2004
LITERATURA – "The Catcher in the Rye"
"O táxi era um carro velho e cheirava mal. Apanho sempre táxis muito velhos quando vou a qualquer sítio à noite. As ruas estavam desertas e tristes, embora fosse a noite de sábado. (…)
- Eh! Oiça – disse eu. – Costuma passar pela lagoa do Central Park? Lá em baixo, ao sul?
- Pela quê?
- Pela lagoa. Aquele lago pequeno onde há patos. Conhece, com certeza.
- Sim. E depois?
- Bem. Conhece os patos que andam por lá na Primavera? Sabe, por acaso, onde os metem no Inverno?
- Onde os metem? A quem?
- Aos patos. Sabe onde os metem? Isto é, levam-nos num camião para o jardim zoológico, ou eles fogem para outro lado, para o sul, ou quê?
Horwitz voltou-se para trás e olhou-me espantado. Era um tipo impaciente, mas não era mau homem.
- E como havia de saber? – perguntou ele. – Como havia de saber uma coisa tão estúpida?
- Bem, não se chateie – disse eu. O tipo estava mal-humorado.
- Mas quem é que se chateou?
Pus termo à conversa, para evitar discussões. Mas ele parecia interessado. Voltou-se para trás e disse:
- Os peixes não saem de lá. Ficam ali mesmo, no lago.
- Os peixes são diferentes. Estou a referir-me aos patos.
- E qual é a diferença? Não há qualquer diferença – disse Horwitz. Sempre que falava parecia chateado.
- Caramba! O Inverno é muito mais duro para os peixes que para os patos. Caramba! É uma coisa que se vê logo.
Nada disse durante uns momentos. Depois acrescentei:
- Muito bem. E que é que fazem os peixes quando o lago está todo gelado e as pessoas andam a patinar?
Horwitz voltou-se novamente para mim.
- Que é que fazem? – berrou. – Ora essa! Ficam no sítio onde estão."
SALINGER, J.D. (trad. João Palma Ferreira), "Uma Agulha no Palheiro", Lisboa, Livros do Brasil, 2000.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, janeiro 30, 2004