terça-feira, novembro 25, 2003
Lauren Hartke 4
“Ao longo de grande parte da peça há um acompanhamento sonoro, a voz robotizada e anónima de um atendedor de chamadas a recitar um aviso igual a tantos outros. Este é repetido incansavelmente e acaba por introduzir-se na textura visual da representação.
A voz impregna sobretudo o trecho intermédio da peça. Aí, surge em palco uma mulher vestida de executiva, de pasta na mão, que vê as horas no relógio de pulso e tenta chamar um táxi. Ela passa de um gesto para outro de um modo bastante formal (talvez inspirada pela anciã japonesa). Faz isto muitas vezes, vezes sem conta. Depois torna a fazê-lo uma última vez, dando uma meia pirueta em movimento muito lento. O espectador pode dar por si a observar e a escutar, absorto num fascínio hipnótico, física e mentalmente suspenso, ou pode lançar uma olhadela ao seu próprio relógio, percorrer a coxia em passo desengonçado e desaparecer na noite.”
DeLILLO, Don (trad. Paulo Faria), “O Corpo Enquanto Arte”, Lisboa, Relógio D`Água Editores, 2001.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, novembro 25, 2003