A montanha mágica

quarta-feira, outubro 15, 2003

LITERATURA


"Livra, isto é trabalho pesado. Um livro de apontamentos delgado, com três argolas, uma decalcomania da faculdade na frente e, por baixo, um rótulo branco onde está escrito à máquina: «Yeats, Eliot, Pound. Terças e quintas 10.30. Salomon 002. Prof. Kransdorf.» O livro de apontamentos continha as suas notas nos estudos juntamente com fotocópias de poemas que Kransford devia ter distribuído pelos estudantes. O primeiro de todos era de Yeats. Chamava-se «Meru». Sabbath leu-o devagar… era o primeiro de Yeats que lia – e um dos últimos que lera fosse de quem fosse – desde que abandonara a vida de marinheiro.

A civilização está cingida, sujeita
A uma norma, sob a aparência de paz
Por múltipla ilusão; mas a vida do homem
É pensamento e ele, pese o seu horror, não pode
Deixar de predar século após século,
Predar, devastar e exterminar até atingir
A desolação da realidade:
Egipto e Grécia, adeus, e adeus, Roma!
Eremitas do monte Meru ou do Evereste,
Entocados à noite sob a neve amontoada
Ou onde ela e os medonhos ventos invernais
Seus corpos nus fustigam, sabem
Que ao dia sucede a noite e que antes da alva
A sua glória e os seus monumentos desaparecerão.

Os apontamentos de Debby estavam escritos na folha de papel, logo abaixo da data de composição do poema.

Meru. Montanha do Tibete. Em 1934, WBY (poeta irlandês) escreveu prefácio tradução de amigo hindu sobre a elevação da renúncia ao mundo de um homem santo.

K: «Yeats estava no limite para lá do qual toda a arte é vã.»

O tema do poema é que o homem só está satisfeito quando destrói tudo o que criou, por exemplo, a civilização do Egipto e de Roma.

K: «A ênfase do poema encontra-se na obrigação do homem de se despojar de toda a ilusão apesar do terror do nada que lhe restará.»

Yeats comenta numa carta a um amigo: «Libertamo-nos da obsessão de que podemos ser nada. O último beijo é dado ao vazio.»

Homem=humano."

ROTH, Philip (trad. Fernanda Pinto Rodrigues), “TEATRO DE SABBATH”, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000.

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 15, 2003

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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