segunda-feira, setembro 08, 2003
Para o Outro, eu
"O BAILADO" 1
I
"Desejei falar de mim, neste livro, redigir uma espécie de Memórias. Fui escrevendo, escrevendo... Falei dos outros, afinal. Mas quem somos nós senão os outros? Um homem é todos os homens que passaram por ele nesta vida e todas as cousas que ele viu. Nós somos o núcleo sensível e consciente duma turba...
II
Eu sou todas as criaturas e todas as cousas. Eu, na verdade, não sou eu; sou o Chizinho, com um talher de prata, dentro duma casa esburacada; sou o Chico Nozes e o seu remorso vagabundo; sou o Gravuna e a sua fome; sou o Gesso a pedir esmola para as almas; sou a Beatriz e a sua morte na flor da idade; sou o Silvino e a sua loucura primaveril e sou a procissão de Quinta-Feira Santa de Trevas... e aquela nuvem ao vento e aquela árvore desgrenhada como as tranças da Aflição..."
PASCOAES, Teixeira de, "O Bailado", Lisboa, Assírio & Alvim, 1987, p. 5.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 08, 2003