A montanha mágica

quarta-feira, setembro 10, 2003

Na montanha IV

"Receio que exista no senhor uma tendência que ameaça tornar-se um traço do seu carácter, se não for combatida. Por isso sinto-me na obrigação de corrigi-lo. O senhor opinou que a doença reunida à estupdez era a coisa mais triste que havia no mundo. Estou de acordo. Também eu prefiro um doente espirituoso a um imbecil tuberculoso, porém não posso deixar de protestar quando o senhor se põe a considerar a enfermidade num plano igual ao da tolice como uma espécie de falta de estilo, um acto de mau gosto praticado pela Natureza, ou um «dilema para o sentimento humano», conforme lhe aprouve exprimir-se , e quando o senhor julga a doença tão nobre e – como dizia? – tão digna de respeito que não pode harmonizar-se com a estupidez. Tal foi a expressão de que se serviu. Pois bem, não! A doença não é nobre, de modo algum, nem digna de respeito. Essa concepção é de si mesma mórbida, só conduz à doença. Talvez consiga despertar o seu horror de modo mais eficaz, dizendo-lhe qie ele é velha e feia. Tem a sua origem em épocas cheias de superstições, nas quais a ideia do humano estava degenerada e privada de toda a dignidade; a épocas angustiadas, que consideravam a harmonia e o bem-estar como coisas suspeitas e diabólicas, ao passo, que a enfermidade equivalia aum passaporte para o Céu. Mas, a Razão e o Século das Luzes dissiparam estas sombras que pesavam sobre a alma da Humanidade – não completamente: a luta dura ainda hoje. Esta luta, meu caro senhor, chama-se Trabalho, trabalho terreno, trabalho em prol da Terra, da honra e dos interesses da Humanidade. E retemperadas, dia a dia, por essa luta, estas forças acabarão por libertar definitivamente o Homem e por conduzi-los pelos caminhos da Civilização e do Progresso, rumo a uma luz cada vez mais clara, mais doce e mais pura.
«Meu Deus! – pensou Hans Castorp, estupefacto e confuso. – Mas isto soa como uma ária de ópera! Como é que eu provoquei isto? Parece-me, aliás, um pouco árido. Por que fala o homem constantemente do trabalho? Isso parece-me também um pouco deslocado aqui». E disse:
- Muito bem, sr. Settembrini. É notável como o senhor sabe falar. Ninguém poderia exprimi-lo mais… de maneira mais plástica, quero eu dizer…"

Thomas Mann, "A Montanha Mágica".

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, setembro 10, 2003

Powered by Blogger Site Meter

Blogue de Luís Dias
amontanhamagica@hotmail.com
A montanha mágica YouTube




vídeos cá do sítio publicados no site do NME

Ilusões Perdidas//A Divina Comédia

Btn_brn_30x30

Google Art Project

Assírio & Alvim
Livrarias Assírio & Alvim - NOVO
Pedra Angular Facebook
blog da Cotovia
Averno
Livros &etc
Relógio D`Água Editores
porta 33
A Phala
Papeles Perdidos
O Café dos Loucos
The Ressabiator

António Reis
Ainda não começámos a pensar
As Aranhas
Foco
Lumière
dias felizes
umblogsobrekleist
there`s only 1 alice
menina limão
O Melhor Amigo
Hospedaria Camões
Bartleby Bar
Rua das Pretas
The Heart is a Lonely Hunter
primeira hora da manhã
Ouriquense
contra mundum
Os Filmes da Minha Vida
Poesia Incompleta
Livraria Letra Livre
Kino Slang
sempre em marcha
Pedro Costa
Artistas Unidos
Teatro da Cornucópia


Abrupto
Manuel António Pina
portadaloja
Dragoscópio
Rui Tavares
31 da Armada

Discos com Sono
Voz do Deserto
Ainda não está escuro
Provas de Contacto
O Inventor
Ribeira das Naus
Vidro Azul
Sound + Vision
The Rest Is Noise
Unquiet Thoughts


Espaço Llansol
Bragança de Miranda
Blogue do Centro Nacional de Cultura
Blogue Jornal de Letras
Atlântico-Sul
letra corrida
Letra de Forma
Revista Coelacanto


A Causa Foi Modificada
Almocreve das Petas
A natureza do mal
Arrastão
A Terceira Noite
Bomba Inteligente
O Senhor Comentador
Blogue dos Cafés
cinco dias
João Pereira Coutinho
jugular
Linha dos Nodos
Manchas
Life is Life
Mood Swing
Os homens da minha vida
O signo do dragão
O Vermelho e o Negro
Pastoral Portuguesa
Poesia & Lda.
Vidro Duplo
Quatro Caminhos
vontade indómita
.....
Arts & Letters Daily
Classica Digitalia
biblioteca nacional digital
Project Gutenberg
Believer
Colóquio/Letras
Cabinet
First Things
The Atlantic
El Paso Times
La Repubblica
BBC News
Telegraph.co.uk
Estadão
Folha de S. Paulo
Harper`s Magazine
The Independent
The Nation
The New Republic
The New York Review of Books
London Review of Books
Prospect
The Spectator
Transfuge
Salon
The Times Literary...
The New Criterion
The Paris Review
Vanity Fair
Cahiers du cinéma
UBUWEB::Sound
all music guide
Pitchfork
Wire
Flannery O'Connor
Bill Viola
Ficções

Destaques: Tomas Tranströmer e de Kooning
e Brancusi-Serra e Tom Waits e Ruy Belo e
Andrei Tarkovski e What Heaven Looks Like: Part 1
e What Heaven Looks Like: Part 2
e Enda Walsh e Jean Genet e Frank Gehry's first skyscraper e Radiohead and Massive Attack play at Occupy London Christmas party - video e What Heaven Looks Like: Part 3 e
And I love Life and fear not Death—Because I’ve lived—But never as now—these days! Good Night—I’m with you. e
What Heaven Looks Like: Part 4 e Krapp's Last Tape (2006) A rare chance to see the sell out performance of Samuel Beckett's critically acclaimed play, starring Nobel Laureate Harold Pinter via entrada como last tapes outrora dias felizes e agora MALONE meurt________

São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


Old Ideas

Past