segunda-feira, agosto 04, 2003
MEMÓRIAS 5
"Seide, num cair de tarde outoniça, lembra a alma de Camilo. Há lá um calvário de árvores decepadas que parecem forcas. Há lá uma casa trágica pintada de amarelo. Um ermo, que a meia légua da estrada, fica ao cabo do mundo, e que parece escolhido de propósito para esconder numa desgraça ou combinar um crime. Pior: ficou a casa abandonada, no âmbito, nas pedras, alguma coisa daquela alma dilacerada de céptico e de crente, misto doloroso que só tinha como solução o infortúnio. O que se ouve, são risos, ou gritos de dor? Depressa! depressa!... Parece que ele anda por aqui, sardónico e imenso, desgraçado e imenso."
Raul Brandão, "Memórias".
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, agosto 04, 2003