A montanha mágica

terça-feira, julho 29, 2003

Sentado debaixo do grande terebinto VII

"Bem estava em penetrar a natureza do espírito de Deus. Contudo os portentos operados com os números não eram perfeitos: o homem, com a sua inteligência, teve de ajustá-los. E a rectificação foi seguida de desgraça e maldição, a que não escapou nem o simpático número doze, que se tornou agoirento, porque teve de ser acrescentado aos trezentos e cinquenta e quatro dias do ano lunar, a fim de os fazer coincidir com os trezentos e sessenta e eis do ano lunar-solar. Se, porém, considerassem trezentos e sessenta e cinco como número dos dias, faltava sempre, como José podia calcular, um quarto de dia. No decorrer do tempo, como José podia calcular, um quarto de dia. No decorrer do tempo essa diferença, repetindo-se mil quatrocentos e sessenta vezes, perfazia um ano inteiro. Este era o período de Sirio.
Tornou-se sobre-humana, a concepção que José fazia do tempo e do espaço, passando dos círculos menores a outros e outros incomparávelmente maiores que os rodeavam, a anos completos de espantosa extensão. 0 próprio dia era um ano pequeno, com as suas estações, a sua claridade estival e a sua noite invernal, e os dias eram contidos no grande giro de revolução. Mas era grande só comparativamente, e mil quatrocentos e sessenta dos tais dias formavam o ano de Sírio. 0 mundo entretanto, compunha-se do desenvolvimento dos anos maiores - ou talvez ainda não definitivamente os maiores - cada um com o seu Verão e o seu Inverno. Este começava quando todas as estrelas se achavam na constelação do Aquário ou dos Peixes; quando se achavam na constelação do Leão ou do Caranguejo começava o Verão. Cada Inverno principiava com uma inundação e cada Verão com um íncêndio, de modo que entre um ponto inicial e um ponto final davam-se todas as revoluções e todos os movimentos circulares. Cada um destes movimentos compreendia quatrocentos e trinta e dois mil anos, sendo a repetição exacta de todos os movimentos precedentes, porque os astros tendo voltado à mesma posição, deviam reproduzir no conjunto os mesmos efeitos. Por isso essas revoluções se chamavam «renovações da vida» e também «repetições do passado» ou «volta perpétua». Tinham também o nome de Olam, «o aeon». Mas Deus era o Senhor dos «aeons» El Olam, o que vive nos «aeons» Chai Olam, e pusera no coração do, homem «olam», isto é: capacidade para pensar nos «aeons» e, em certo sentido ter domínio sobre eles.
Era uma instrução de soberbas proporções. José entretinha-se com assuntos elevados. Efectivamente, que coisas não sabia aquele Eliezer! Mistérios que tornavam o "tudo em prazer real e ao mesmo tempo lisonjeiro, por serem mistérios conhecidos apenas de alguns homens excepcionalmente inteligentes e discretos que viviam retirados em templos e cabanas. Assim, Eliezer sabia e também ensinou a José que a vara dupla babilónica tinha o comprimento do pêndulo, executando sessenta oscilações duplas num minuto duplo. Apesar de tagarela, o discípulo não divulgou tal conhecimento a ninguém, pois ele provava mais uma vez o carácter sagrado do número sessenta que, multiplicado pelo belo número seis, dava o resultado mais sagrado de todos de trezentos e sessenta."

Mann, Thomas, (trad. Elisa Lopes Ribeiro), “O Jovem José”, Lisboa, Edições «Livros do Brasil» Lisboa, s.d., p. 21 e 22.

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, julho 29, 2003

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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