quarta-feira, julho 23, 2003
Sentado debaixo do grande terebinto III
"Poder-se-á dar a isto o nome de ciência? Não. Porque não era a pura verdade, mas simples recreação do espírito, embora destinada a, discipliná-lo e a prepará-lo para receber verdades austeras e sagradas. José aprendeu assim com Eliezer o que era o mundo celeste, composto simbólicamente de céu superior, terra celeste do zodíaco e mar celeste meridional. Ao universo celeste correspondia exactamente o universo terrestre, dividido em três partes: atmosfera, reino terrestre e oceano terrestre. Este - segundo José aprendeu - corria em volta do disco da Terra como uma faixa, mas encontrava-se também por baixo dela e, no tempo do grande dilúvio, teria irrompido por todas as fendas, misturando as suas águas com as do mar celeste que caíam do alto» 0 reino terrestre dava, porém, a quem o observasse a mesma ideia de terra firme, e a terra celeste, lá no cimo, era como uma, região montanhosa com dois picos, o Sol e - a Lua - Horeb e Sinai.
0 Sol e a Lua, com outros cinco astros errantes, constituíam os sete planetas transmissores de ordens, que circundavam o Zodíaco em sete círculos de várias dimensões, de sorte que este assemelhava-se a uma torre redonda de sete degraus, cujos terraços conduziam ao céu setentrional e à casa do Senhor. Lá, estava Deus. E a Sua montanha sagrada refulgia como ígneas pedrarias, tal como o Hermon cintilava com a neve sobre a região do norte. Eliezer, enquanto falava, apontava para a montanha resplandecente do Senhor, visível de qualquer parte, e portanto também da árvore da ciência, de modo que o aluno não distinguia o que era celeste do que era terrestre."
Mann, Thomas, (trad. Elisa Lopes Ribeiro), “O Jovem José”, Lisboa, Edições «Livros do Brasil» Lisboa, s.d., p. 19.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, julho 23, 2003