sábado, julho 26, 2003
Sentado debaixo do grande terebinto VI
"Mas também se podiam agrupar os planetas em três e quatro, com igual direito para ambos os lados. 0 número dos regentes do Zodíaco era de três: Sol, Lua e Istar. Além disso, era o número cósmico, determinando em cima e em baixo a divisão do Universo. Quatro, finalmente, era o número dos pontos cardeais, a que corres pondiam as divisões do dia. Esse era igualmente o número de partes em que se dividia a órbita solar, cada uma delas governada por um planeta. Quatro era também o número da Lua e de Istar, pois ambas mostravam quatro fases. Porém, que resultado se obtinha, multiplicando quatro por três? 0 resultado que se obtinha era dozel
José ria, mas Eliezer erguia as mãos, dizendo: «Adonai!»
E como sucedia que, dividindo os dias da Lua pelo das suas fases - por quatro - de novo se obtinha, a semana de sete dias? Nisto se via a mão do Altíssimo.
Com todas estas coisas o jovem José, sob a direcção do velho, se ia entretendo como se fosse com um jogo, jogo a um tempo divertido e proveitoso. José percebia que Deus dotara o homem de inteligência para a causa sagrada, e que o homem, não para a corrigir, mas para a tornar mais coerente, a fim de que os trezentos e sessenta dias coincidissem com o ano solar, tivera por fim de intercalar mais cinco dias. Dias difíceis e maus, dias de dragões, maldições e noites invernais. Só depois de eles passarem, surgia a Primavera e predominava outra vez a quadra das bênçãos. 0 número cinco aparecia aqui com um aspecto intolerável. Mas treze também era ruim. E porquê? Porque os doze meses lunares tinham só trezentos e cinquenta e quatro dias e era preciso agregarem-se-lhe, de quando em quando, uns meses desagradáveis, que correspondiam à décima terceira constelação zodiacal - o Corvo. Esse excedente dava ao treze o cunho de número aziago, do mesmo modo que o corvo era uma ave de mau agoiro. Por isso Benoni - Benjamim estivera em risco de morrer ao atravessar as portas do nascimento, como quem atravessa a estreita passagem entre os cumes da «Montanha do Mundo», e por pouco não sucumbira na luta contra as forças do mundo inferior, apenas por ser o décimo terceiro filho de jacob. Mas em seu lugar fora aceita Dina, que perecera."
Mann, Thomas, (trad. Elisa Lopes Ribeiro), “O Jovem José”, Lisboa, Edições «Livros do Brasil» Lisboa, s.d., p. 20 e 21.
posted by Luís Miguel Dias sábado, julho 26, 2003