quinta-feira, julho 24, 2003
Sentado debaixo do grande terebinto IV
"José aprendeu a misteriosa maravilha dos números sessenta, doze, sete, quatro e três; o divino carácter da medida; como tudo se combinava e correspondiia entre si de maneira tão assombrosa que outra coisa se não podia fazer se não cair em adoração perante tão perfeita harmonia.
Eram doze as constelações do Zodíaco, formando as estações do grande círculo, e eram doze os meses de trinta dias cada um. 0 círculo menor correspondia ao maior, que também era dividido em doze períodos. Havia assim um período sessenta vezes maior do que o disco solar, sendo este a hora dupla. Ela era o mês do dia, mostrando-se também engenhosamente divisível. A órbita solar, visível rios equinócios, continha tantas vezes o diâmetro do disco solar quantos os dias do ano: trezentas e sessenta vezes. E precisamente nesses dias o nascer do Sol durava desde o momento em que nascia no horizonte a sua orla superior até ao momento em que o astro se apresentava cheio e luminoso: a sexagésima parte de uma hora dupla. Esse era portanto o minuto duplo. E assim como o Verão e o Inverno formavam a grande revolução terrestre, e o dia e a noite formavam a pequena, assim das doze horas duplas provinham doze horas singelas, respectivamente para o dia e para a noite, e sessenta minutos singelos para cada hora do dia e da noite.
Que ordem, que harmonia, que exactidão em tudo isto!"
Mann, Thomas, (trad. Elisa Lopes Ribeiro), “O Jovem José”, Lisboa, Edições «Livros do Brasil» Lisboa, s.d., p. 19.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, julho 24, 2003