terça-feira, julho 22, 2003
Sentado debaixo do grande terebinto II
"Mas isto não é nada. Não passa de um exemplo dos muitos exercícios de treino de memória e sagacidade, bem como dos inúmeros ditos e historietas dos tempos, antigos em que o rapaz devia tornar-se versado. Eliezer começara a contar-lhos desde a mais tenra, idade, e havia, muito que José aprendera a enfeitiçar os ouvintes, aliás já pasmados só de contemplar-lhe a formosura. À beira do poço já ele procurara distrair o pai, com a fábula dos nomes, narrando como a donzela Ichara obtivera do lascivo mensageiro o nome de Deus e como, mal acabara de ouvir o verdadeiro nome, o gritara e, mercê dele, subira intacta na sua virgindade, enganando o importuno Senazai. Acolhera-a, o Senhor nas Alturas com grande benevolência, dizendo-Ihe: «Escapaste ao laço do pecado, por isso vais ter um lugar entre as estrelas.» E era esta a origem da constelação da Virgem. Quanto a Senazai, o mensageiro, viu-se condenado a permanecer cá em baixo, no pó, sem poder subir, até ao dia em que Jacob, filho de Yitzchak, teve perto de Beth-el aquele sonho da escada que conduzia ao Céu. Por essa escada, é que Senazai pôde tornar a subir, profundamente humilhado de só o conseguir graças ao sonho de um mortal."
Mann, Thomas, (trad. Elisa Lopes Ribeiro), “O Jovem José”, Lisboa, Edições «Livros do Brasil» Lisboa, s.d., p. 18.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, julho 22, 2003